Lei Seca nas estradas de Angola


Chegamos a 2012. Ano que é também o título de um filme apocalíptico, mas não bíblico. Este ano, celebramos também uma década desde que, nas chanas do leste, terminou o nosso fatídico conflito. Ou se quisermos, numa linguagem mais amena, com um tom mais positivo, como exigem os marketeiros, estamos há dez anos em paz e são notórios os sinais de mudança no país, em todos os sentidos.

Quando a guerra terminou, em 2002, pouco ou nada conhecia do país. Luanda, obviamente, mas pouco mais. E assim, com o fim do conflito, com alguns amigos partimos para Benguela de avião e regressamos por estrada. Foi ai que tivemos o nosso primeiro encontro de choque com as sequelas da guerra. Não falo já da livre circulação, mas principalmente do estado da estrada, sendo de destacar o troço entre o Lobito e a Canjala, um verdadeiro martírio que nos roubou, salvo erro, cerca de quatro horas porque a viatura não poderia andar a mais de 30km/h. Já lá vamos…

Hoje, posso gabar-me, em alto e bom som, conheço 17 províncias do país, exceptuando-se Luanda por razões óbvias. Assim, a minha lista de províncias, ou de capitais de províncias na maioria dos casos, deve ficar preenchida nos próximos tempos quando nos for dada a oportunidade de conhecer o Soyo ou Mbanza Congo (província do Zaire). E só estamos assim, porque não realizamos a nossa pretensão de fazer uma reportagem / documentário às ruínas de Mbanza Kongo, candidato a património histórico e cultural da humanidade pela UNESCO.

Essa viagem ao Soyo e Mbanza Kongo, como a maior parte das outras seria feita por estrada. E só não fazemos mais porque temos muitos receios da sinistralidade rodoviária persistente em Angola. Os números chocam e as imagens que nos chegaram neste final de ano deixam-nos bastante perplexos. Claramente, alguma coisa está a falhar. Claramente, temos de frenar o que se passa nas nossas estradas. É um absurdo. É inaceitável!

Será que o problema está nas escolas e no ensino da condução? Será que o problema está na potência das viaturas? Saúdo as empresas que impõe nas suas frotas limites de velocidade. Ou será que o problema é comportamental, ou seja, rigorosamente humano? Desleixo? Consumo de álcool? Incumprimento de algumas regras como os cintos de segurança para condutores e seus acompanhantes? Ou será que o problema é da nossa polícia que é pouco rigorosa, condescendente mesmo com as más práticas que se assiste todos os dias nas estradas?

A estatística dos danos, sobretudo em termos humanos chama a nossa atenção e se compararmos com a principal causa de mortalidade hoje, a malária(?) ou ainda com os outros males como foi a guerra, veremos que é hora de dispararmos o alarme.

A este respeito, lembro-me agora de uma frase de um amigo que dizia o seguinte: se queres ver o nível educacional de um povo, repara no modo como ele se comporta nas estradas. E voltamos ao mesmo: Educação. Em todos os sentidos. Consciencialização. Maior e melhor envolvimento de toda a mídia, pública e privada.

Mas olhando para uma das causas mais aparentes, de acordo com as autoridades policiais, o consumo exagerado de bebidas alcóolicas, antes e durante a condução, parece-me que devemos partir para uma medida draconiana. Assim, julgo que é hora de levantarmos uma lei seca para quem conduz. E a Polícia terá de ser rigorosa e consequente no cumprimento de uma medida destas. É hora de travarmos as mortes que se assistem nas nossas estradas. Para bem da pátria.

ADEBAYO VUNGE

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