Mbanza Kongo



O dia 8 de Julho passa a ser um marco na História Cultural de Angola. Pela primeira vez, um monumento e sítio angolano obteve a simbólica classificação de Património Histórico da Humanidade. E, de facto, fez-se justiça ao reconhecimento daquele lugar importante para o Reino do Kongo, África e a Humanidade.
Antiga Sé Catedral de Mbanza Kongo, após a chegada dos portugueses em 1482


Um património da humanidade é um local considerado valioso para todo o mundo, independentemente de onde está localizado, segundo classificação feita por um rigoroso comité da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).


é importante pensarmos que haverá muito trabalho ainda para ser feito no sentido de potenciarmos o local e tirarmos dele os melhores dividendos para a imagem do País, para o turismo, para a pesquisa científica das nossas Universidades, para o ensino de História de Angola e para a economia nacional. A rota de Mbanza Kongo poderá dinamizar o turismo naquela região, sendo urgente o investimento em infra-estruturas e programas especiais nesta direcção.


O património é classificado em cultural, natural ou misto. O cultural é composto por monumentos e grupos de edifícios ou sítios que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. Até mesmo músicas podem ser consideradas património. A UNESCO dispõe de um tratado específico e uma vez obtida a classificação o país pode contar com recursos desta organização e outros doadores para a conservação do local. Se estiver em risco, este é incluído na Lista de Patrimónios Ameaçados e recebe uma atenção ainda mais especial da organização.

Nesta ordem, Mbanza Kongo, antiga capital do Reino Kongo, entre os séculos XIII e XVI é um dos pontos mais dinâmicos em África, estendendo-se por um corredor que ia de Angola aos Camarões, passando por uma parte da RDC, Congo e Gabão. A área histórica cresceu em torno da residência real, o tribunal e a árvore sagrada. Quando os portugueses chegaram, no século XV, construíram mais edifícios de acordo com os métodos europeus, cujos resquícios ainda lá se encontram. O comércio foi a sua principal actividade e a sua população bantu foi gravemente afectada no tráfico negreiro ao Brasil, América do Norte e caraíbas, após as relações que o Rei estabeleceu com Portugal.

É esta história rica, de uma civilização pujante que o mundo reconhece agora como sendo um legado de todos. Os seus hábitos e costumes, a sua língua de profunda musicalidade nas vozes de Teta Landu, Kyaku Kiadaffi e Ricardo Lemvo, fazendo-nos lembrar a tradição musical dos griouts na África Ocidental.

A vitória da nossa diplomacia cultural ocorreu durante um fim-de-semana e por isso o assunto não escapou como tema de conversa nas nossas almoçaradas. E foi nesta circunstância que fiquei estupefacto ao ouvir alguns despautérios como o facto de o Governo ou os angolanos não deverem prestar atenção ao assunto porque persistem muitos problemas ou ainda que a UNESCO estaria a favorecer a campanha do MPLA. Fiquei chocado por tamanha mediocridade e incultura. Definitivamente uma coisa nada tem a ver com a outra e confirma o demérito que muitos de nós, tão agarrados ao materialismo dos nossos tempos nem percebermos o valor simbólico de certas coisas que, em última análise expressam o soft power dos países. Aliás, não é em vão que os Países do G-8 lideram a lista com mais monumentos e sítios classificados.

Chegados aqui, é importante pensarmos que haverá muito trabalho ainda para ser feito no sentido de potenciarmos o local e tirarmos dele os melhores dividendos para a imagem do País, para o turismo, para a pesquisa científica das nossas Universidades, para o ensino de História de Angola e para a economia nacional. A rota de Mbanza Kongo poderá dinamizar o turismo naquela região, sendo urgente o investimento em infra-estruturas e programas especiais nesta direcção.

No day-after da escolha e conhecedor de dezassete das nossas dezoito capitais de províncias, não tenho dúvidas que tudo farei para conhecer brevemente a décima oitava que é justamente a província do Zaire e por extensão honrar-me com uma selfie a partir das ruinas medievais de Mbanza Kongo.
Para finalizar, é justo que reconheçamos o trabalho de toda a equipa que deu o melhor de si neste sentido, especialmente o papel que a historiadora Rosa Cruz e Silva sempre teve neste processo, ora como directora do Arquivo Histórico, ora como ministra da Cultura. Devemos também reconhecer a determinação e pragmatismo da ministra Carolina Cerqueira e a paciência do Embaixador junto da UNESCO, Sita José. O País agradece.

Adebayo Vunge
Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças
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Texto publicado na edição de 1 de Agosto do Jornal de Angola


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