Os Vinhos do Novo Mundo (IIª Parte)


O Novo Mundo introduziu novos conceitos a produção e ao negócio do vinho. Os rótulos clássicos, ao estilo francês, que só incluíam elementos gráficos basilares, já quase nada dizem. O valor da tradição só conta agora para alguns e a novidade encontra-se melhor cotada. Quando as marcas australianas e sul-africanas (como Kumala –ver sugestão da edição passada, Cape Promise e Moondarra) apareceram com imagens de animais autóctones, ícones indígenas e sugestivas paisagens suscitaram vivo interesse pelo efeito novidade associando o vinho ao conceito do meio, ou da fauna, em que se produz.


Por esta razão, o exotismo que interpreta a vontade de aventura e desejo de ser surpreendido (já muito comum em alguns rótulos portugueses) e, no oposto estético, o minimalismo, com códigos gráficos adoptados do mundo da moda, do design e da música são as tendências que mais vingam.


Forçados pela dinâmica que o mundo novo impôs no mercado, os europeus já estão a modificar os seus métodos de elaboração. Entre os reis dos vinhos de lote, a nova tendência são os monocastas, e vinhos de perfis aromáticos e mais fáceis de beber – alguns vinhos do Alentejo, sem perder o terroir são uma evidência disso mesmo. As adegas na Europa estão a fazer de tudo para resistir à invasão nos principais mercados de consumidores e da crítica procurando demarcar-se não mais pela quantidade, mas sim pela qualidade, pela tradição, sem nunca descurar a inovação ali onde se impõe.


Nesta nova era do vinho dominada pelo poder da imagem, muitas das tendências mais inovadoras passam pelo desenvolvimento de novas embalagens. O “pack”, por exemplo, cresce em importância, e surgem cada vez mais alternativas à tradicional garrafa de 75 cl.


Os americanos e australianos estão a liderar a modalidade de vinhos em lata, idênticas à dos refrigerantes, para competir com a cerveja em bares e discotecas. Também está a crescer a oferta de “bag in box” para vinhos de qualidade, essa espécie de caixas-bolsa ou “garrafões” contemporâneos – com todas as vantagens do vácuo – ao estilo dos “tetrabrick”. Outra novidade são os “kits” de degustação que contêm seis garrafas com outras tantas variedades distintas e as respectivas fichas de prova, contendo instruções básicas para que possamos imitar críticos como Robert Parker ou Jancis Robinson, bebendo em casa com os amigos. Devemos acostumar-nos também a ver menos rolhas de cortiça nas garrafas, embora em países meramente consumidores como Angola haja alguma resistência. Os americanos estão a impor os vedantes de plástico para os seus vinhos mais jovens, de consumo imediato, e na Austrália e na Nova Zelândia as tampas de rosca (“screwcap”) são a nova moda, levantando o véu para uma guerra contra a cortiça onde até os argumentos ecológicos são evocados.

Os vinhos do Novo Mundo, originários principalmente da Austrália, Estados Unidos, Argentina, Chile e África do Sul, adoptam uma estratégia baseada em vinhos fáceis de serem bebidos, corretos, sem defeitos, mas também sem muita qualidade, pelo menos não têm esta presunção.

Os vinhos do Novo Mundo, para descomplicar, indicam no rótulo das garrafas o tipo de uva. Os vinhos do Velho Mundo destacam a região, e o apreciador se obriga à memorização de muitos nomes, onde várias vezes vemos as mudanças na sua panoplia de denominações de origem – quantas vezes inúteis, dirão alguns consumidores menos exigentes.

Por Adebayo Vunge com revista Wine

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