INQUIETAÇÕES

O comboio e o desenvolvimento

Este ano celebramos os 35 anos da independência de Angola. Haverá, na previsão apresentada há algum tempo pelo ministro Bornito de Sousa, uma festa com pompa e circunstância. Talvez tenhamos sido influenciados pela pomposidade das celebrações dos cinquenta anos de independência de outros países africanos que serviram, em grande medida para fazer uma demostração de força. Mas se Angola pretende assumir-se com protagonismo de líder regional – pouco importa agora se para África Central como é pretensão dos franceses, se para a SADC como tencionam os americanos, ou mesmo para o continente como um todo como pretendem as elites angolanas – deve também por altura do 11 de Novembro mostrar ao mundo e ao continente as suas potencialidades... e não que já não o tenhamos feito, em certos aspectos no CAN de Janeiro último.

Estão previstas, para esta celebração um conjunto variado de inaugurações, uma das quais, quanto a mim, com grande significado é a abertura da linha de comboio que liga Luanda a Malange, passando pelo Kuanza-norte. Sob o ponto de vista de circulação de pessoas é um passo muito importante. Mas mais importante e significativo será em termos económicos facilitando a transportação de mercadorias de um lado para o outro. Em especial, nesta primeira fase, de combustível para as regiões ao longo do caminho.

O que entretanto me preocupa é a educação das pessoas, a sua preparação para uma sã, racional e conveniente utilização do comboio. A sério que estou bastante preocupado com esta situação porque gostaria que o comboio funcionasse como um meio de inclusão social, circulando nele pessoas de renda variada e não apenas aqueles com menor renda. Para tal, o asseio e a segurança deste meio são fundamentais para que o comboio seja utilizado por toda a gente, como sucede na maioria dos países desenvolvidos.

Não gostaria isso sim, de ver no nosso comboio a continuação de outras imagens já frequentes em alguns países africanos e até asiáticos onde pessoas e animais circulam juntos no comboio completamente cheio e apinhado de gente sem a menor segurança e conforto. Será necessário educar as pessoas a respeitarem o património público que é o comboio, resultante de um grande esforço e investimento do Governo, principalmente por intermédio da midia tradicional (rádios, televisões e jornais), mas não descurando outras formas comunicativas e sensibilizadoras das boas práticas.

Portanto, o comboio deverá servir para uma manifestação do nosso crescimento económico e desenvolvimento social e não como prova do nosso atraso nestes aspectos. Quem gere a utilização deste meio deverá ser bastante contundente em relação ao agir dos prevaricadores, rigoroso no respeito dos horários e estar equipado com agentes sociais, durante alguns anos, para este trabalho de sensibilização mais aturado.

Neste sentido, esta linha aberta agora, poderia servir mesmo de ensaio para as linhas que se seguem, nomeadamente a de Moçamedes até ao Cuando Cubango, salvo erro, e a estratégica linha do caminho de ferro do Lobito que liga as extremidades litoral e leste do nosso país, com valências regionais, principalmente para as empresas que exploram alguns minérios na RD do Congo e Zâmbia. Esta linha irá reflectir alguma integração económica regional, mas deve evoluir para a circulação de pessoas sem grandes constrangimentos migratórios. Mas esse idealismo africano utópico só é possível com estabilidade plena.

ADEBAYO VUNGE

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