África em 2011: ainda a incerteza ou ha esperanças



2010 foi sem dúvida um ano de bom presságio para o continente africano.

É verdade que continuaram os episódios e as cenas de violência, de pobreza, mas houve realizações importantes que marcaram um olhar diferente sobre o continente, principalmente ao nível do desporto.

Tudo começou em Janeiro com o Campeonato Africano das Nações em futebol, CAN Angola 2010, beliscado apenas pelo triste incidente de terrorismo em Cabinda contra uma selecção de futebol. Apesar disso, é inegável hoje que o campeonato foi visto amplamente pelo mundo, principalmente entre os países que mais apreciam o fenómeno futebolístico.

Seguiu-se-nos o campeonato do Mundo em futebol... desta vez na África do Sul. Sem dúvidas que foi um campeonato muito bem conseguido, um verdadeiro exemplo da capacidade organizativa e mobilizadora dos africanos, contrariando os rótulos preconceituosos de uma pretensa inferioridade africana contra os demais povos e continentes.

Se em matéria de eventos desportivos com impacto e repercurssão política internacional, pode-se afirmar que houve avanços, o mesmo não se poderá dizer em relação aos níveis de pobreza que abundam na maioria dos países do continente, agravados ainda mais pela conjuntura de crise internacional, ou dos seus efeitos, como ainda se viu em 2010.

Para já, o que faz eco na mídia de referência internacional ligada ao continente africano é o actual diferendo eleitoral na Costa do Marfim, opondo Gbabo e Ouatara. O conflito marca o fim do ano de 2010, e arrasta a incerteza para os primeiros meses de 2011, passando mais uma vez a imagem de um continente onde as elites políticas têm um convívio sofrível com a democracia nos moldes universalmente aceites.

A tensão ivoriense não tem apenas os contornos políticos, mas também económicos num país que já uma referência em África, mesmo que alguns o acusem de ter estado sob a égide do neocolonialismo do mesmo colonizador. A grande potência do cacau que alimenta os grandes chocolates franceses, suiços, italianos e de outras paragens vive assim uma década marcada por uma instabilidade política, com reflexos em termos sociais e económicos. Ao lado de Marrocos com as suas frutas e da África do Sul com todo o seu potencial agrícola, a Costa do Marfim é até aqui um dos grandes produtores agrícolas (para exportação) do continente.

Sobre a solução do problema, Angola pronunciou-se, pela voz do Presidente dos Santos, no sentido de uma resolução pacífica que passa pela realização de novas eleições nos próximos tempos. Pelas palavras do Presidente dos Santos, fica clara a posição de Angola de que o representante da ONU imiscuiu-se grosseiramente no processo o que tendeu para a actual visão ocidental do problema.

Por outro lado... e já no corno de África. Depois de eclodir a Eritreia como uma nova Nação, tudo indica que caminho idêntico irá suceder em relação à divisão do Sudão entre o norte e o sul, um país que apesar dos seus níveis de reserva e produção petrolífera apresenta dos mais pobres índices de desenvolvimento humano: taxa de mortalidade infantil na ordem dos 135 para mil nascimentos; mortalidade materna de uma em cada seis gestantes; um professor para mil estudantes primários; 85 por cento da população analfabeta; 90 por cento desta população de 8,8 milhões a viverem com menos de um dólar por dia, segundo dados das Nações Unidas e da EIU.

Pelo que se espera, a divisão do Sudão porá fim a uma escalada de violência que remonta à década de 60 entre o norte islâmico e o sul não islâmico. Apesar dos acordos de paz, assinados em 1972, a escalada de violência regressou em 1983 e continuou até 2005. A expectativa da comunidade internacional é que o sul do Sudão como o 193º estado do mundo não venha a dar lugar a uma nova guerra.

Mas o grande teste da pacificação e da maturidade democrática das elites políticas do continente poderá ser mesmo o próximo pleito eleitoral da Nigéria, agendado para Abril, e com a tomada de posse do novo Presidente eleito para o mês seguinte. As eleições na Nigéria, entretanto, estão animadas, mas prevê-se que a vitória seja do PDP (Partido Democrático do Povo), próximo do actual Presidente interino, Johanathan Goodluck, que ascendeu ao poder devido à morte de Umaru Yar´Adua.

Há previsão (incerta) de eleições noutros países africanos, como Benin, Uganda, Chad, Camarões, Madagascar, Zâmbia, Gabão e República Democrática do Congo e até Egipto, onde a continuidade de um dos decanos dos Presidentes em África, Hosni Mubaraki, é quase uma certeza. Entretanto, no Uganda as coisas não parecem fáceis para o Presidente Youeri Museveni que caminha agora para o seu quarto mandato, iniciados em 1986, altura em que terá a afirmado que um dos sérios problemas de África era o longo tempo de permanência no poder das suas lideranças. (Sic)

Na África do Sul, país charneira do continente, o Presidente Jacob Zuma tem pela frente o desafio de unir a sua administração e em conjunto com outras forças (comunistas, esquerda e nacionalistas) combater alguns dos problemas de que ainda enferma o país, como a pobreza, corrupção e a criminalidade, numa altura em que se advinha para o segundo trimestre a realização de eleições autárquicas no País.

No plano económico, prevêm-se resultados animadores. Se é verdade que as economias de enclave, dependentes das comoddites hão-de prosseguir, não é menos verdade que em países como o Ghana e a África do Sul há uma grande estabilidade política e um avanço na melhoria das condições sociais da população, com a aposta na urbanização e nas infra-estruturas graças ao apoio (investimento) de potências emergentes, como a China, Brasil e a Índia nestes países.

Por outro, assinalam alguns analistas, o desafio da integração económica no âmbito das organizações regionais continua a ser um dos grandes desafios económicos de África, permitindo tornar o continente viável e mais significativo ao nível da Organização Mundial do Comércio como exportador e não mero importador de bens e produtos que podem ser produzidos internamente.

A grande expectativa africana continua a residir, por isso, segundo opinião de muitos especialistas em relações internacionais, nas elites políticas do continente, particularmente entre alguns Presidentes que podem alavancar um outro rosto para o continente. Entre estes, o mundo está de olhos, e pela positiva apesar de algumas contrariedades que possam ameinar este desiderato aqui e acolá, em Presidentes como Abdoulaie Wade (Senegal), José Eduardo dos Santos (Angola) Jonathan Goodluck (Nigéria), Jacob Zuma (África do Sul) e pouco mais.

Passamos, portanto, a fase dos golpes do Estado, estamos já na consolidação e amadurecimento da democracia, apesar dos percalços aqui e acolá. Vivemos na esperança ou na (in)certeza?

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