O Mundo em 2011 – Desafios e perspectivas


Tudo na mesma, nada de anormal

A história de Angola regista este ano uma capicua. O dia da independência nacional celebra-se a 11/11/11. No mundo, não haverá muitos motivos para celebrações. 2011 será um ano de desafios e de uma nova retracção poderá tornar ainda mais complexa a recuperação da crise.

Textos de ADEBAYO VUNGE

Já é habitual entre nós, em Dezembro fazermos balanços de tudo. Da nossa vida, do nosso País, da nossa economia. Para tudo há um balanço, unicamente positivo. Desta vez, entretanto, o desafio maior a que nos propusemos, com suporte de alguns órgãos de informação de referência mundial (Jeune Afrique, Times, Foreign Affairs, New African e The Economist) é traçarmos algumas linhas sobre os grandes desafios e perspectivas para o ano de 2011.

Um dos primeiros grandes pontos de curiosidade em 2011 é o dia da celebração da independência nacional. Estamos a falar do 11 de Novembro de 2011. Ou se preferir 11/11/11. E o que fará quando o relógio assinalar 11:11:11. Deixemos isso simplesmente para os mais supersticiosos...

Assim muito sumariamente, o ano de 2011 tem alguns factos curiosos em vista: Prevê-se que em 2011 a China ultrapasse os Estados Unidos como o maior manufactureiro, mas despoleta agora uma nova potência que é a India, cujo Produto Interno Bruto poderá ser superior ao da China, pela primeira vez. Barack Obama ultrapassa os 50 anos, a Wikipédia assinala o seu décimo aniversário, os mesmos que o ataque terrorista do 11 de Setembro e menos cinco que o Twitter.

Economia e Negócios no topo da agenda

Depois da hecatombe que abalou o mundo em 2009 com a crise do subprime e os seus reflexos em catadupa sobre a economia mundial, a maioria dos analistas acredita que em 2010 houve uma recuperação, mas a economia mundial poderá voltar a sofrer uma retração em 2011. Para já, o PIB mundial, segundo a OCDE e a EIU, deverá descer dos 4,5% em 2010 para 3,6 em 2011. Apesar desta queda no crescimento, os economistas acreditam que depois do abanão registado entre 2008 e 2009, tudo volta aos carris e sente’se já alguma aceleração, numa altura em que os pulmões da economia mundial adoptaram um conjunto de medidas neste sentido.

Embora alguns economistas prevejam no médio-longo prazo uma onda inflaccionista, a verdade é que a Reserva Federal Americana irá continuar a sua política de emitir moeda como forma de estimular o sistema financeiro. Até aqui, as medidas neste sentido não resultaram no estímulo ao crédito e um dos sectores que mais se ressente desta situação é o sector privado.

Enquanto isso, na Europa em 2010, os pilares do Euro enquanto moeda única tremeram depois que eclodiu a crise dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha). Para contrabalançar esta situação, está o crescimento que se assinala na França e Alemanha. Mas com a Alemanha está o Reino Unido que embora não esteja na zona Euro, ressente-se desta situação e a Chanceller Angela Merkel e David Cameron, o Premier britânico ameaçam medidas duras para os estados membros que não cumprirem com as medidas previstas no Pacto de Estabilidade Europeu.

Em matéria de economia real, é a China que tem vindo a desempenhar um papel fulcral na recuperação da economia mundial. A sua demanda por commodities estimulou a recuperação em alguns países asiáticos para além do Brasil, Austrália e outros da África Subsahariana. Apesar disso, o crescimento da China em 2011 poderá conhecer uma ligeira retracção.

Apesar desta ligeira estabilização do crescimento chinês, e tal como no caso americano, a maioria dos países não irá ressentir-se devido à estabilidade no mercado internacional das commodities, particularmente países como o Brasil, Índia e Rússia.

Ainda neste quesito relativo às commoddities, países como Angola poderão sair amplamente favorecidos por uma conjuntura marcada por um aumento na procura do petróleo em cerca de 1,7% por parte dos principais consumidores liderados pela China e Índia. Paralelamente, os países produtores membros do cartel OPEP deverão manter os seus preços nos mesmos níveis de produção rígidos como se tem visto até aqui. Por esta razão, estima-se que o preço do crude ao longo de 2011 oscile entre os 75-80 dólares por barril. Para já, em 2010, ficou para a indústria petrolífera a lição retirada dos incidentes no Golfo do México que provocou a explosão de uma plataforma petrolífera operada pela BP. Tratava-se de uma operação em águas ultra-profundas, para a qual a indústria não se tinha salvaguardado suficientemente em termos de segurança.

Por outro lado, a maioria dos analistas da situação económica internacional receia que haja um ligeiro abrandamento do crescimento económico mundial fruto de algumas más políticas adoptadas pelos Estados. De tal sorte é assim que uma das medidas que a maioria dos Estados mais desenvolvidos tem vindo a adoptar é o corte dos seus orçamentos, diminuindo a despesa pública, aumentando os impostos e procurando manter o investimento. A maioria destes Estados irá começar o ano de 2011 com défices a rondarem os 1-8 por cento do seu PIB. Alguns tendem mesmo a adoptar medidas antipopulares com cortes severos em algumas benesses do chamado Estado social em áreas como a educação, saúde, subsídio de desemprego e outras.

Por outro lado, enquanto a administração Obama enfrenta alguns impasses para fazer avançar a sua reforma fiscal, alguns países europeus seguiram caminhos diferentes. Assim, a França de Sarkozy optou por alargar a idade da retreet (reforma) enquanto a Alemanha e o Reino Unido criaram novas regras para encorajar a equidade fiscal.

Ainda sobre a França, 2011 será um ano decisivo para as aspirações do Presidente Sarkozy se pretender ser reeleito para o segundo mandato. Para já, não há muitas notícias animadoras para o novo líder do G8 e G20, na medida em que a madame Segholene Royal acaba de supreender tudo e todos anunciando a sua recandidatura às próximas eleições presidenciais, o que faz reacender o ânimo da esquerda francesa em prol de mudanças no Eliseu. Outra contrariedade do Presidente francês prende-se com alguns escândalos que envolvem segmentos empresariais daquele país, principalmente madame Bettencourt (“dona” da L´Oreal) suspeita de ter apoiado a sua eleição em troca de outros favores.

Se ao nível das políticas públicas há aspectos que saltam à vista, o mesmo se passa também no mundo dos negócios onde a new media assume cada vez um protagonismo maior. Por exemplo, se no século XIX Henry Ford introduziu reformas profundas na gestão empresarial moderna, na época contemporânea este trabalho tem sido feito por homens de negócio e da inovação como Steve Jobs, Bill Gates, Robert Murdoch entre outros.

É neste ano ainda que a IBM assinala o seu centenário com o negócio dos bits na maior onda. Este é um caso raro de sucesso empresarial com tantos da existência sobrevivendo a crises e ameaças dos tempos que correm, com destaque para a Google, Wal-Mart, Facebook (cujo fundador foi considerado homem do ano em 2010 pela revista Time) entre outros que continuam a mostrar-se bastante agéis para acompanhar todas as tendências desta rápida evolução tecnológica.

Fruto do ascendente mundial da Índia e, principalmente, da China, começa a nascer uma nova correlação de forças no plano das organizações internacionais. Elizabeth C. Economy num verbete publicado na última edição da revista Foreign Affairs, próxima do Departamento de Estado norte-americano, adverte que “fruto da sua expansão económica China não pretende apenas assumir um papel activo nas organizações internacionais, mas pretende também refazer as regras de jogo”, naquilo que se consubstancia num recado claro à Casa Branca.

Por outro lado, 2011 será um ano que servirá para aclarar também algumas dúvidas relativas ao papel internacional do Brasil. Na mesma revista, e num artigo assinado por Julia Sweig, analisa-se a ascensão do Brasil na última década, fundamentalmente durante o consulado do Presidente Luís Inácio Lula da Silva que tornou o Brasil num “novo player global”, segundo palavras desta especialista sobre a América Latina, região onde, em contraponto com a queda norte-americana, o Brasil ganhou um grande fôlego e ascendente.

Recorde-se que o Brasil é não só o quinto país com maior extensão territorial do mundo, mas ao mesmo tempo transformou-se na oitava maior economia produtora de bens industriais, agrolimentares e outros, exportando para todo o lado e abastecendo o seu mercado interno. A dúvida vai agora no sentido de perceber o que acontecerá ao Brasil depois da saída de Lula e neste sentido dentro de 12 meses teremos uma resposta. Afinal, segundo a revista Time Lula é o líder mais influente do mundo. Tudo dependerá muito da governação de Dilma Roussef e da agressidade da sua diplomacia no quadrante internacional.

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