Sobre o Dia de África
Os taxistas são uma espécie difícil em qualquer lado. Nem falo já dos nossos “kandongueiros”…
Coincidentemente ou não, nos últimos tempos, em várias capitais europeias, tenho andado, com relativa frequência, com taxistas africanos provenientes de vários países, com destaque para Nigéria, Camarões e Burquina Faso, pelo menos os de que me recordo facilmente. Os taxistas são pessoas difíceis, mas ao mesmo tempo, embora pareça contraditório, interessantes porque servem de barómetro social e realizam na plenitude o conceito de media setting na medida em que sabem claramente o que está na agenda mediática do momento.
Por ser negro e africano, ainda mais com um nome de origem nigeriana (Youruba), não tenho escapado as abordagens sucessivas destes nossos conterrâneos continentais. Conversamos de tudo um pouco, mas geralmente eles preferem falar sobre a política africana.
Por outro lado, nestas mesmas viagens, por várias razões tenho privado com muitos jovens africanos. Ouvi-los torna-se inicialmente interessante até chegarem ao ponto político. Ouvi-los torna-se interessante até que se pronunciem sobre o que lhes chega pela mídia ocidental sobre a realidade dos seus respectivos países, tal qual um dragão destilando fogo e ódio.
Há mesmo um jovem escritor nigeriano que terá publicado um livro assustador na perspectiva de traçar um retrato de África alicerçado numa visão demasiado pessimista, ou melhor, numa visão que os cientistas sociais chamam de afropessimismo.
Nesta semana em que se assinala mais um dia de África, era interessante reflectirmos sobre o nosso continente. Acho que esta reflexão, sem ser utópica ou desfasa da realidade, não deve ser unicamente pessimista no sentido de considerar que todas as dinâmicas internas que se criam no continente são forçosamente más. Essa é uma visão perigosa, que ignora realidades muito interessantes em África, case studyies de desenvolvimento e progresso social. Falo por exemplo de Cabo-verde, do Ghana, da própria Nigéria, da África do Sul e – porque não – de Angola, se nos atermos aos níveis de crescimento económico que o País foi tendo nos últimos anos depois do fim da famigerada guerra civil.
Mais do que falar da pobreza, da miséria, da degradação social, dos conflitos armados, do analfabetismo, do atraso económico, devemos ter presente a necessidade de fazermos algo novo e diferente pelo nosso continente. Desde logo, pelo modo como encaramos esta nossa realidade. A necessidade de elogiarmos aquilo que está feito e não apenas de denegrirmos, de criticarmos, de considerarmos que está tudo mal e nada bem, de considerar governos legítimos como ditatoriais quando nunca os viveram, limitando-se a reproduzir visões esteriotipadas do continente e encobrindo certos interesses. Sou, por isso, forçado a concordar que muitos elementos desta nossa diáspora africana revelam, muitas vezes, complexos de descolonizado mal acabado, em diapasão com infeliz afirmação de Senghor para quem “a razão é helena e a emoção negra”.
Outro dos pontos subjacentes ao afropessimismo é que ele continua a encarar o africano como um mero objecto e não um sujeito activo da história e da civilização. Tende igualmente a encarar o africano como um sujeito assujeitado. Um fardo e um objecto manipulável ao bel-prazer de todos, quando na verdade, ele tende a assumir um maior protagonismo.
No forçado caminho para o desenvolvimento, com percursos próprios, atendendo a uma dialéctica própria que leva em consideração a sua componente social, histórica, política e económica devemos ter presente que os Estados africanos procuram a sua consolidação e afirmação no panorama global graças ao tamanho da sua população, aos seus recursos e o que ela poderá representar para a economia mundial. Ainda é tudo um devir. É assim que devemos admitir hoje a discussão de um modelo de democracia africana que leve em consideração toda a sua dimensão histórica e cultural. Isso, entretanto, não deve legitimar algumas práticas medievais que, sob este pretexto, conferem aos africanos de hoje uma associação às práticas bárbaras.
Os africanos na diáspora, definitivamente, têm de olhar para si de modo diferente. Olhar no sentido construtivo e participativo não se colocando no ocidente como meros observadores, numa perspectiva do eu e eles. Por conseguinte, o afropessimismo, tal qual os seus seguidores, é cínico, destrutivo e cobarde.
ADEBAYO VUNGE
Os taxistas são uma espécie difícil em qualquer lado. Nem falo já dos nossos “kandongueiros”…
Coincidentemente ou não, nos últimos tempos, em várias capitais europeias, tenho andado, com relativa frequência, com taxistas africanos provenientes de vários países, com destaque para Nigéria, Camarões e Burquina Faso, pelo menos os de que me recordo facilmente. Os taxistas são pessoas difíceis, mas ao mesmo tempo, embora pareça contraditório, interessantes porque servem de barómetro social e realizam na plenitude o conceito de media setting na medida em que sabem claramente o que está na agenda mediática do momento.
Por ser negro e africano, ainda mais com um nome de origem nigeriana (Youruba), não tenho escapado as abordagens sucessivas destes nossos conterrâneos continentais. Conversamos de tudo um pouco, mas geralmente eles preferem falar sobre a política africana.
Por outro lado, nestas mesmas viagens, por várias razões tenho privado com muitos jovens africanos. Ouvi-los torna-se inicialmente interessante até chegarem ao ponto político. Ouvi-los torna-se interessante até que se pronunciem sobre o que lhes chega pela mídia ocidental sobre a realidade dos seus respectivos países, tal qual um dragão destilando fogo e ódio.
Há mesmo um jovem escritor nigeriano que terá publicado um livro assustador na perspectiva de traçar um retrato de África alicerçado numa visão demasiado pessimista, ou melhor, numa visão que os cientistas sociais chamam de afropessimismo.
Nesta semana em que se assinala mais um dia de África, era interessante reflectirmos sobre o nosso continente. Acho que esta reflexão, sem ser utópica ou desfasa da realidade, não deve ser unicamente pessimista no sentido de considerar que todas as dinâmicas internas que se criam no continente são forçosamente más. Essa é uma visão perigosa, que ignora realidades muito interessantes em África, case studyies de desenvolvimento e progresso social. Falo por exemplo de Cabo-verde, do Ghana, da própria Nigéria, da África do Sul e – porque não – de Angola, se nos atermos aos níveis de crescimento económico que o País foi tendo nos últimos anos depois do fim da famigerada guerra civil.
Mais do que falar da pobreza, da miséria, da degradação social, dos conflitos armados, do analfabetismo, do atraso económico, devemos ter presente a necessidade de fazermos algo novo e diferente pelo nosso continente. Desde logo, pelo modo como encaramos esta nossa realidade. A necessidade de elogiarmos aquilo que está feito e não apenas de denegrirmos, de criticarmos, de considerarmos que está tudo mal e nada bem, de considerar governos legítimos como ditatoriais quando nunca os viveram, limitando-se a reproduzir visões esteriotipadas do continente e encobrindo certos interesses. Sou, por isso, forçado a concordar que muitos elementos desta nossa diáspora africana revelam, muitas vezes, complexos de descolonizado mal acabado, em diapasão com infeliz afirmação de Senghor para quem “a razão é helena e a emoção negra”.
Outro dos pontos subjacentes ao afropessimismo é que ele continua a encarar o africano como um mero objecto e não um sujeito activo da história e da civilização. Tende igualmente a encarar o africano como um sujeito assujeitado. Um fardo e um objecto manipulável ao bel-prazer de todos, quando na verdade, ele tende a assumir um maior protagonismo.
No forçado caminho para o desenvolvimento, com percursos próprios, atendendo a uma dialéctica própria que leva em consideração a sua componente social, histórica, política e económica devemos ter presente que os Estados africanos procuram a sua consolidação e afirmação no panorama global graças ao tamanho da sua população, aos seus recursos e o que ela poderá representar para a economia mundial. Ainda é tudo um devir. É assim que devemos admitir hoje a discussão de um modelo de democracia africana que leve em consideração toda a sua dimensão histórica e cultural. Isso, entretanto, não deve legitimar algumas práticas medievais que, sob este pretexto, conferem aos africanos de hoje uma associação às práticas bárbaras.
Os africanos na diáspora, definitivamente, têm de olhar para si de modo diferente. Olhar no sentido construtivo e participativo não se colocando no ocidente como meros observadores, numa perspectiva do eu e eles. Por conseguinte, o afropessimismo, tal qual os seus seguidores, é cínico, destrutivo e cobarde.
ADEBAYO VUNGE
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