Situação é gritante em Luanda.
Várias vezes temos ouvido intervenções públicas provenientes de várias sensibilidades, chamando atenção sobre o que se tem vindo a registar em matéria de consumo excessivo de álcool na nossa sociedade, principalmente entre os jovens.
Num olhar atento a nossa realidade, graças a uma incursão pelo interior dos bairros de Luanda, arrisco-me a considerar que neste quesito não há excepções, faz-nos olhar para um cenário de jovens, em paradas, grupos ou até individualmente a beber umas birras, the best e outros produtos alcoolizados nas roullotes, nas janelas abertas, em qualquer esquina sem o menor receio.
Felizmente, o ano passado, houve a publicação de um decreto que proibia a venda de bebidas alcoólicas aos menores. Mas, pela quantidade e pela forma como tem-se visto o consumo receio que haja entre nós alguns casos de violação desta norma. Mas o mais grave nisso é vermos que entre estes consumidores há mesmo muitos adolescentes. E este consumo tem-se revelado descarado, porque feito em locais públicos, e estimulado pelo convívio em festas, sentadas, «almoçaradas» e discotecas.
Permitam-me assinalar que este problema do consumo excessivo de álcool tem contornos sociais bastante preocupantes.
O primeiro deles, do meu ponto de vista, tem a ver exactamente com um outro fenómeno social que se assiste nos últimos anos que é o da violência doméstica. Assim, para além dos traumas da guerra a que se referem insistentemente muitos sociólogos e psicólogos angolanos, há claramente uma componente de alcoolismo associada a causa destas práticas de violência nos lares.
Por outro lado, mais preocupante quanto a mim, é a questão da sinistralidade rodoviária que se assiste ultimamente nas estradas nacionais. Este problema aumenta de proporções durante o fim-de-semana e tem como causa reiterada a questão do alcoolismo.
Assim sendo, estamos diante de um fenómeno que assume contornos de um verdadeiro dilema social, ante a passividade de muitas instituições públicas e não só. Tenho notado que, exceptuando o comité nacional de luta contras as drogas, a Remar e, ultimamente, o ministério da família e promoção da mulher, poucos organismos olham para esta questão com cautela, mas estes, ao menos isso, assumiram a questão mesmo que sem a devida repercussão que a comunicação social deveria dar a questão.
Pelo contrário, o que temos visto é uma presença muito forte da publicidade de produtos alcoólicos na televisão e na rádio em horários inadequados. Ainda bem, por isso, que o Ministério da Comunicação Social assumiu a necessidade de regulamentação da Lei da Publicidade com referências expressas e muito directas ao modo como esta publicidade deve ser feita.
Se ela sofre as consequências disso mesmo, as famílias têm também o antídoto para esta questão. Os nossos jovens devem ser estimulados a retardar a entrada para o consumo do álcool, ao mesmo tempo que se deve estimular o consumo moderado e responsável, olhando para as consequências do alcoolismo para o organismo, o intelecto e a sociedade. Na busca de uma sociedade sã, devemos encarar o alcoolismo como um problema avesso a vida, a dignidade do consumidor, dos seus e a estabilidade social.
ADEBAYO VUNGE
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