Tensão, Instabilidade e agitação em Luanda - quem ganha com isso?

Nos últimos dias, a situação em Luanda tem estado algo tensa. Mas nada que se compare ao retrato que tem sido pintada pela infeliz imprensa portuguesa que não disfarça mais o preconceito e o ódio pela ascensão desta antiga colónia.

Tudo por causa do desfecho de uma manifestação promovida por um grupo de jovens que se dizem estudantes universitários revolucionários. Claramente, um movimento juvenil com um forte cariz político. Os jovens estiveram na rua, e as tantas algumas movimentações da polícia, decidiram marchar em direcção ao Palácio Presidencial exigindo a libertação de um dos seus confrades. Como é previsível, nestas circunstâncias, foram confrontados por um grupo de efectivos e, pouco claro está, houve pancadarias entre os polícias e os manifestantes.

Na verdade, um olhar aos poucos dados que nos aparecem, há um rastilho de violência que perpassa principalmente nos pronunciamentos dos promotores destas manifestações, nos vídeos que colocam na internet, num discurso grosseiro, ofensivo e até preocupante. Há claramente uma predisposição de algumas destas pessoas em ver a nossa situação descambar. Para já, é uma atitude bastante irresponsável uma vez que estas pessoas não estão a medir as consequências.
Muitas destas pessoas querem sonegar a nossa história recente onde aos 18 anos os jovens não tinham outra escolha se não o serviço militar obrigatório com um desfecho incerto. Muitos destes jovens pouco conhecem do país, do estado em que ficaram as infra-estruturas por causa da guerra. Certamente se esqueceram do quão difícil era estudar e conseguir um lugar numa qualquer universidade, onde hoje estão e muitos deles com um desempenho sofrível.

Isso, entretanto, deixo claro, não faz com que se ignore o que se passa na nossa realidade hoje. Isso, entretanto, não me deixa descansado, sobretudo quando imagino o que se passa na pediatria. Quando penso na dificuldade que é em conseguir uma boa escola ou colégio para dar uma boa formação as nossas crianças. Isso, entretanto, não me faz ignorar o modo como vivem muitos de nós nos vários bairros da periferia, sem água, luz e saneamento básico... São muitas as dificuldades sociais e económicas. São muitos os desafios para transformarmos Angola num país próspero, mas entendo que este caminho não poderá ser mais feito pela via da violência. Antes, pela via democrática através do voto nas próximas eleições.

Afinal, sabemos bem o que gerou a violência entre nós. O atraso em que nos encontramos face aos nossos países mais próximos, muitos deles mais pequenos, menos ricos, como é hoje, por exemplo, a Namíbia.

Devemos, por isso, exigir alguma ponderação e serenidade entre os nossos jovens ao mesmo tempo que os gestores da coisa pública devem igualmente estar atentos aos sinais dos tempos, a dinâmica social, a mundialização dos valores, atitudes, posturas e hábitos que o século XXI nos impõe, cumprindo com as suas promessas e resolvendo os problemas do povo.

Devemos olhar sobretudo para o nosso lado espiritual, dos valores éticos e cívicos que se têm mostrado bastante débeis e revelando uma fragilidade social preocupante. A violência que se instalou no seio das famílias. O deixa andar. O nepotismo. A corrupção e o egoísmo onde só o eu vale e nada mais. Só o bolso determina a nossa acção. Onde nada mais é feito apaixonadamente ou desinteressadamente.

É esse o mundo onde caminhos hoje e para o qual devemos olhar com muita objectividade para não sermos meros objectos ao serviço e reprodutores de interesses de terceiros. Fomos sujeitos da nossa história terminando a guerra civil e não podemos deixar que o tempo nos torne novamente meros objectos e entes passivos permitindo que nasça uma nova instabilidade. Nós teremos de determinar o curso da nossa história. Do que queremos para Angola. E o que queremos, não tenho dúvidas, é a paz. Não deixemos que as emoções acabem com ela. Mas façamos alguma coisa por ela, para bem de todos nós.

Adebayo Vunge

Comentários