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Não tenho qualquer simpatia pelo kuduro. Admiro alguns kuduristas, mas confesso que não me revejo muito neste estilo musical. E, infelizmente, ele está a internacionalizar-se tão rapidamente que algumas pessoas, hoje em dia, neste mundo, quando falam de Angola, falam também do kuduro.
Recentemente, durante um passeio a Angra dos Reis, no Rio de Janeiro (Brasil), e diante de turistas provenientes de várias partes do Brasil e da América Latina, os guias lembraram-se de nos brindar (angolanos) com um kuduro.
Outro dia, em Londres, durante uma sua apresentação, o músico Caetano Veloso - um dos que mais admiro, de morrer, confesso! - cantou e rimou com uma batida dizendo que era kuduro de Angola.
Em tempos vi na televisão e na net que houve um concurso de kuduro na Alemanha.
São muitos os indicios de que o kuduro está a afirmar-se muito bem lá fora. Os músicos americanos, quando falam de Angola nas suas entrevistas, falam também do kuduro.
Alguns kuduros até têm uma batida interessante para certas ocasiões mais eufóricas da nossa vida, nada mais, mas daí que tenhamos este estilo como a nossa bandeira é nivelar baixo de mais, olhando para um panteão tão rico de sonoridades musicais, de ritmos, de um cancioneiro lindo, de um folclore muito apreciável. O mais irritante, entretanto, no kuduro é a sua dança, ou as tendências de moda que a música cria, tornando-lhe fácil, maleável, mas sem conteúdo. É de uma pobreza cultural franciscana.
Agora, não estou contra quem o faça, antes respeito. Só não acho justo e sensato que Angola se faça representar no mundo apenas por essa "arte menor", como diriam os antigos de Florença. É só olharmos para as nossas referências musicais de hoje: Estados Unidos e Brasil, cuja riqueza está exactamente na diversidade, mas quando se fala em referência, em simbolismo eleva-se a fasquia para o jazz, o samba ou mesmo a bossa nova. Por muito que os jovens adorem o hip pop ou o funk!
Era bom por isso, que os esteios da nossa música ocupassem este espaço do ou a pretexto deste kuduro. Qão bom era termos Paulo Flores, Bonga, Waldemar Bastos, Dodó Miranda, Carlos Burity, Yuri da Cunha, o Rei Elias, o Wyza e muitos outros desfilarem nos vários palcos deste mundo, de Paris à Nova York ou de Tókio à Dakar. Seria fenomenal!
A nossa afirmação cultural deve passar igualmente pela afirmação de muitos destes nomes, com ou sem o apoio do Estado. A afirmação da nossa nacionalidade no mundo, tal como o fizeram os americanos, deve passar inevitavelmente pela via cultural. E, neste sentido, a música tem um lugar de charneira. A média, no quadrante interno, tem uma responsabilidade muito grande. Mas quando vemos nas televisões as Titicas e putos nos consumirem o espaço de antena, não podemos senão ficar preocupados.
Adebayo Vunge
Meu caro amigo. De facto o "kudurismo" vai se impondo lá fora e quer queiramos quer não, com alguma força. Ela se impõe mais pelo ritmo forte muitas vezes não cadenciado e pela maneira como se dança, ou se expressa, o ritmo que acompanha essa dança, ou expresão. Infelizmente não há da parte de ninguém que tenha tirado proveito dessa situação ao ponto de levar para fora outras boas canções e melodias para que se possa mostrar que por cá há esse kuduro mas há também outros ritmos, outras danças e claro outra qualidade.
ResponderEliminarA ausência de uma afirmação por parte dos angolanos vai fazendo com que o kuduro esteja mesmo a ser produzido lá fora de tal forma de Awilo Longomba reclama para ele esse ritmo que consta de um dos seus últimos trabalhos. Precisamos de ter cuidado porque o Awilo vende em Paris, Nova York, Tóquio, etc e os nossos vendem na... Praça da Independência.
Também não sou fã dessa "música" mas infelizmente aqueles que apoiamos ou desejamos ver internacionalizados uns são postos de parte e outros estão a enveredar pela mbundalização da rica e apetitosa música angolana.
A ver vamos o que nos reserva o futuro.
Edson Macedo
Revejo-me na reflexão e cuidei de retomar a sua publicação no meu Blog http://angodebates.blogspot.com/
ResponderEliminarUm abraço de Benguela e bom domingo.