Proximidade e o interesse público devem ditar as pautas do noticiário internacional |
O jornalista Adebayo Vunge
defendeu sexta-feira em Luanda que a imprensa angolana deve evitar a lógica de
meros reprodutores e consumidores do noticiário internacional como forma de evitar
o alinhamento indirecto com o interesse dos outros Estados.
“Na
realidade, a imprensa angolana continua apenas a reproduzir o que é produzido
pela imprensa internacional, principalmente as fontes portuguesas, sobre factos
que nos são próximos, copiando ao mesmo tempo a sua lógica e seguindo de forma
fiel a sua agenda de interesses e cronograma. O caso das fontes portuguesas é
ainda mais perigoso porque estes também são, muitas vezes reprodutores de
fontes inglesas, norte-americanas e francesas”, argumentou.
Durante uma palestra aos
estudantes de Comunicação Social e Relações Internacionais da UPRA, o
jornalista defende que as pautas editoriais devam previligiar as zonas de
interesse estratégico do Estado e a “difusão deve priorizar o que nos é cultural e
geograficamente próximo pois torna-se incompreensível a ausência de informação
própria (ou seja produzida pelos próprios órgãos seja através de um enviado
especial ou correspondente) em países limítrofes ao nosso como a Zâmbia, RDC e
Namíbia, com os quais temos também uma relação intensa, oficial e não-oficial,
nos domínios público e privado, para além de se tratar de países com os quais
temos uma larga comunidade de imigrantes (refugiados) e estudantes”.
De facto, é difícil termos uma
percepção correcta sobre os factos a partir do momento que não sabemos os prós
e contras nos vários conflitos. Lembro que o que os media veiculam é apenas uma
verdade. Devemos sempre desconfiar do que está por detrás dessa veiculação
visivelmente alinhada com o interesse dos seus Estados. Importa procurarmos
outras verdades. Ouvirmos opiniões diferentes, informações (im)parciais quanto
aos assuntos internacionais e assim forjar o nosso próprio ponto de vista.
Adebayo Vunge chamou ainda atenção
ao facto de que existem numerosos “exemplos de processamento tendencioso das
informações de geopolítica”, e apontou casos recentes como o conflito na Síria,
as tensões na Ucrânia-Crimeia e demostrou por exemplo a forma como o avião
desaparecido da Malasya Airlines tem sido objecto de uma certa disputa.
Enquanto a imprensa americana colocava enfase no facto do avião ser da Malasya
Airways e os riscos de um eventual atentado terrorista, a imprensa europeia
colocou enfase no facto de se tartar de um Boeing da Malasya Airways. “Porquê
essa diferença?”, interrogou-se para depois advertir a existência de uma
renhida disputa comercial entre os maiores fabricantes de aviação Boeing
(Americana) e a Airbus (européia ou franco-alemã) e ao facto dos Europeus e
Americanos tratarem e divulgarem essa informação em favor do seu interesse.
O palestrante considerou insatisfatória
a qualidade da informação geopolítica produzida pelos meios de comunicação
ocidentais, excessivamente alinhada com os seus interesses nacionais. Em
resposta a esta situação assistimos ao aparecimento de novos players como a
China Xinhua e a Al-Jazeera que servem de contrapeso ao que é divulgado sobre
os países árabes e a Ásia.
No tocante ao continente africano,
a lógica noticiosa dos medias internacionais continua a ser puramente paternalista
e a acentuar principalmente o afropessimismo. Para inverter essa lógica,
defendeu, devem ser os próprios africanos a produzirem a sua informação,
percebendo que independentemente dos custos, a component de representação
simbólica, identidade e afirmação é absolutamente fundamental. Por outro lado,
segundo disse, é importante que os noticiários africanos reflictam também a
realidade de degradação social que existe no Ocidente para que haja um
equilibrio.
Adebayo Vunge, actualmente conselheiro de
imprensa da Embaixada de Angola em França, é autor de dois livros, nomeadamente
“Dos Mass Media em Angola” (2006) e “A credibilidade dos Media em Angola” (2010).
O também jornalista e docente
universitário Teixeira Cândido foi o moderador e a sessão foi encerrada pela
Reitora da UPRA, professora Laurinda Hoygaard que valorizou a pertinência do
tema para a formação dos estudantes que aconselhou a aprofudarem os seus
conhecimentos para uma correcta abordagem sobre a realidade.
Comentários
Enviar um comentário