As novas cidades africanas com qualidade e bem-estar


Depois das independências africanas há cinquenta anos, a maioria dos países do continente passou por vários estágios. No essencial, assistimos ao processo de afirmação dos Estados emergentes, que nalguns casos foi bastante doloroso porque marcado por fortes instabilidade política e económica. Em face disso, a densidade populacional do continente continua a aumentar. E de forma severa. Logicamente, esta situação tem um impacto indirecto sobre o desenvolvimento urbano e territorial, colocando a necessidade de novos espaços habitacionais para fazer face à pressão demográfica. Até 2050, segundo dados das Nações Unidas, as cidades africanas terão cerca de 1,2 mil milhões de habitantes. A pergunta que muitos se colocam é se existem condições para alojar esta quantidade de gente. 
Cité de la Fleuve (RDC)

Eko Atlantic city (Nigéria)



Nova Centralidade do Dundo (Angola)


Eugénio Guerreiro (*)|
7 de Agosto, 2014
Assistimos, no essencial, à existência de três casos. No primeiro caso, algumas cidades africanas encontram-se em renovação ou requalificação urbana, o que passa pela construção de novas infra-estruturas urbanas para acudir às necessidades das suas populações. 
Falamos, por exemplo, do caso de Rabat e Argel, que recentemente edificaram o sistema de transportes por metropolitano, o que trouxe vantagens substanciais em termos de circulação e de qualidade de vida para os seus habitantes. Mas podemos ainda assinalar o caso da capital económica sul-africana, Joanesburgo, onde se pôs em marcha um plano de requalificação de algumas zonas da cidade que estavam marcadas pela degradação física e social dos bairros periféricos. Uma intervenção do Estado sul-africano permitiu dar um novo lustro a alguns desses bairros. Este processo marca outras megalópoles, como Kinshasa, Cairo e Lagos. Num segundo plano, não podemos deixar de apontar casos muito bem sucedidos de novas cidades. Abuja é o exemplo, mas surgem igualmente novas cidades satélites ou tampão na Guiné Equatorial, Namibia (Swakpmound), Angola (Talatona, Kilamba) ou outras que vêm desafogar o êxodo que se assistia em direcção às grandes cidades que ofereciam segurança e melhores serviços. 


Kigali, no Ruanda, viveu um processo inverso. O que a França colonial deixou era um vilarejo que se desenvolveu nos últimos dez anos sob o mandato de Paul Kagame. Hoje é um modelo que se inspirou na cidade-Estado  de Singapura e a sua visão de 2020 – a de ser um importante “hub” africano em matéria de serviços tecnológicos, negócios, comércio e turismo. O que é mais interessante é o aparecimento de novas e rigorosas cidades um pouco por todo o continente africano. Kanza Te­ch­nology e Tatu City (no Quénia), Eko Atlantic (Nigéria) La Cité du Fleuvre (RDC), Apolonia King City (Ghana), para além das novas centralidades angolanas, são alguns dos exemplos dos novos projectos que foram lançados recentemente no continente. Estas cidades foram concebidas para oferecer serviços de alta qualidade e infra-estruturas modernas, numa base futurista, dotando os habitantes de melhor qualidade de vida.


Mas o que se coloca como desafio às cidades africanas na actualidade não é somente o problema das infra-estruturas, que alguns casos precisam ainda de modernização. O mais premente desafio das cidades africanas, segundo a ONU Habitat, é a questão da gestão urbana e da manutenção das suas infra-estruturas, para além do défice na oferta de serviços com padrão internacional. Estamos a falar dos sistemas de drenagem de águas, problemas com o saneamento básico e recolha do lixo, um sistema de organização urbana precário e ausência de espaços próprios para o comércio e lazer. As redes técnicas para telecomunicações são insuficientes e ineficientes, o défice de electrificação é grande e – o que é ainda mais urgente – a e­ducação e sensibilização das pessoas para o modo de estar é fundamental. 


Kigali é apontado como exemplo, não apenas pelos métodos da administração, mas principalmente por causa do processo de responsabilização dos cidadãos. Quem sujou limpa, quem partiu arranja, quem tirou repõe. As pessoas assumiram a cidade como sua e cuidam da sua preservação. 
Sendo Luanda uma cidade a­fricana, é disso que ela precisa, cidadãos contribuintes e não a­penas que reclamam.

Vista de Luanda a partir da Marginal

(*) Publicado no Jornal de Angola

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