A minha
impressão sobre o Vietnam
O mundo
mudou. A geopolítica encontra-se em alta velocidade, superado apenas pelas
tecnologias de informação. Essa ideia de um mundo oriental que se sobrepõe e se
torna o centro da geopolítica não vem de hoje. É milenar. Mas mesmo no nosso
tempo, já o Japão causava fascinio, nos anos 70 e 80, tal como a
ocidentalização de Hong Kong. Tudo voltou a mudar e novamente o centro das
atenções continua no Oriente. É a China que está em voga. Será esta apenas uma
variante do choque (conflito) de civilizações, conceito caro à Samuel
Huttington.
Mas tal
como procuramos fugir a moda das férias ocidentais, também agora procuramos
outras coisas no Oriente. E, fomos então parar ao Vietname. Com muito pouca
informação, com mais preconceitos do que dados reais.
O Vietnam,
pode-se dizer, é um daqueles países que como Angola nasceu numa encruzilhada,
entre os blocos da época (comunista e ocidental). Um verdadeiro "órfão da guerra
fria", como titula Margareth Anstee, no seu livro sobre o processo de paz angolano. O Estado soberano, baseado em Hanoi e apoiado pelo leste, teve de
resistir-combater o impeto independentista dos de Ho Chi Min, ou se quisermos,
de Saigão que contava com o apoio dos norte-americanos. Foi, entretanto, uma guerra
que custou caro para ambos os lados. Existem histórias muito interessantes que
os mais novos vietnamitas não conhecem, mas que provam a heroicidade do Povo
vietnamita que com o pouco que tinha, praticamente de forma artesanal, resistiu
de entre 1946 e 1975, cerca de 30 anos. Uma história que não é muito diferente da nossa,
mutatis mutandi.
E então, o
que persiste é a ideia de um país rural e pobre. Talvez seja, mas há coisas
muito marcantes. Na tabela do IDH encontra-se em 116 numa lista de 182 países. As suas metas de ODM estão a avançar e a esperança
de vida dos seus 90 milhoes de habitantes passou dos 54 anos na decada de 90
para 66 anos de idade. Houve notaveis progressos económicos, principalmente
fruto da abertura que o país tem aos investimentos que provêm principalmente
dos Estados Unidos da América, Japão, Coreia do Sul e alguns países da Europa,
especialmente a França que investem fortemente nos serviços hoteleiros. Assim, para lá da agricultura e pecuária, onde o país tem uma grande força,
favorecido pelo seu clima tropical, o Vietname tem vindo a apostar fortemente
na industria transformadora - da Samsung à Panasonic, da roupa aos pequenos
objectos - e nos serviços. Os seus famosos resorts do sul disputam com destinos
implantados mundialmente como Bora Bora ou Kuala Lampur, na Indonésia e
Malasia. Mas a qualidade dos seus serviços, o baixo custo de país tem sido
alguns dos factores que favorecem a sua implantação no dominio do turismo onde
recebe anualmente cerca de um milhão de chineses, para além de outras
nacionalidades.
Ao
contrário de alguns outros países asiáticos, o Vietname aposta no
desenvolvimento local, ou seja das comunidades rurais que vivem hoje com melhor
dignidade. Água, energia electrica e asfalto encontra-se por quase todo o país,
inclusive em muitas aldeias das regiões montanhosas.
Se Hanoi prepara-se
para dar o salto, Ho Chi min é uma metropole com grande vivacidade, misturando
o ocidental, herdado da presença francesa e depois americana, com os costumes
budistas e asiaticos. Hanoi é a agitação das motas por tudo quanto é canto. É
uma circulação que parece dificil, nos primeiros instantes, mas logo nos damos
conta da sua logica e engrenamos. Encontramos então um misto do velho com os
arranha-ceus modernos e os centros comerciais que fazem a delicia dos
consumidores das grandes marcas como Louis Vuitton, Prada, Vertu e outros bens
de luxo.
Quem se
passeia por ali, da-se conta que os recursos naturais não são definitivamente o
determinante para o desenvolvimento de um país. O mais importante é o homem, é
o resultado do investimento no factor humano que determina a sorte de um país e
não há duvidas disso. Não há também duvidas de que a pobreza não é
necessariamente sinonimo de indigência e nela há dignidade. O progresso
alcança-se com trabalho. Mesmo se têm também um longo caminho, sente-se que nos
próximos 20 anos, a esse ritmo, chegam lá. Não nos estranhemos, porque já foi
assim com os chineses e no ciclo da vida, a história repete-se.
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