Um massacre silencioso




Os extremistas do Boko Haran, na Nigéria, perpetraram o seu pior massacre. O grupo radical islâmico que pretende instaurar a Charia na Nigéria é uma verdadeira máquina do mal que vai se superando a si mesmo.

Segundo dados que circulam, mas com números dispares, cerca de duas mil pessoas sucumbiram após os ataques do Boko Haran no passado final de semana, ante um silêncio inquietante da comunidade internacional.

Sabe-se agora que no primeiro sabado de 2015, a manhã mal tinha começado quando as explosões causadas pelos lança-granadas fizeram com que os moradores da pequena cidade de Baga – no nordeste da Nigéria, quase na fronteira com o Tchad – fugissem para se esconder no mato. Os agressores, combatentes do Boko Haram, passaram a persegui-los de motos enquanto atiravam a esmo suas metralhadoras, sem necessariamente mirar nas vítimas, mas acertando-as mesmo assim. Os que se refugiaram em suas casas foram queimados vivos; outros morreram afogados, enquanto tentavam chegar ao país vizinho nadando pelo Lago Tchad – os que sobreviveram nessa empreitada estão agora isolados, sem comida e inacessíveis em Kangala, uma ilha infestada de mosquitos no meio do lago.

Não houve chefes de Estados entrelaçando seus braços e ninguém marchou em solidariedade por eles nas ruas de alguma capital do mundo – de fato, muitas pessoas mal ficaram sabendo da tragédia nigeriana, ocorrida dias antes dos assassinatos na França.

Antes de olharmos para as responsabilidades da comunidade internacional, olhamos para a situação endógena na Nigéria. Existe uma verdadeira desfuncionalidade de algumas instituições como é o caso do Exército que tem-se mostrado incapaz de fazer face ao problema.

Apesar de dispor de cinco mil milhões de dolares norte-americanos, as forças armadas daquele país apresentam ainda grandes debilidades logisticas e mesmo do treinamento military, mostrando-se incapaz de conter fúria destes radicais islâmicos que contam com um efectivo estimado em 8 mil homens.

Ao contrário do que se pensa, não existem muitas evidências de uma ligação forte, sobretudo em termos de aprovisionamento de meios logisticos e financeiros entre estes e os demais radicais islâmicos, seja a Al-qaida ou mesmo o Estado Islâmico. Assim, este movimento armado, obtem o grosso das suas armas junto do próprio exercito, sobretudo quando estes conseguem expulsar as tropas nigerianas de algumas regiões  Nestas localidades, o Boko Haran pilha principalmente os bancos. No fundo, é a mesma tactica que o EI, que em Cabul conseguiu ficar com 800 milhões de dolares. São estes recursos que alimentam um certo contrabando de armas provenientes, supostamente, do Tchad.

Para além, da ausência de solidariedade da comunidade internacional, há uma gritante falta de concertação entre os Estados afectados pelo problema, principalmente a Nigéria e os Camarões, e suplementarmente o Tchad e o Niger, qualquer um destes mais preocupado em olhar para os seus interesses unilaterais. Ao mesmo tempo, os analistas notam com desagrado a ausência de um engajamento mais efectivo dos demais Estados africanos, quando se sabe que o radicalism islâmico deve ser visto numa perspectiva global, ou seja, um problema externo rapidamente pode se repercurtir internamente. 

Depois da entrevista do Arcebispo de católico da Nigéria, Monsenhor Ignatius Kaigama temos de olhar frontalmente para a realidade. E de facto, mais uma vez, a comunidade internacional trata com desprimor os assuntos africanos. Ou, como diz um adagio popular, “com dois pesos e duas medidas”. Como aceitar esta disparidade quando comparamos as reacçoes e o tratamento mediático e politico que se dá aos atentados em Paris à 7 de Janeiro e o que se passou na Nigéria.

A fórmula escrita num recente editorial do jornal The Namibian, a propósito das seis mil mortes devido aos casos de ébola na Africa ocidental é acertada aqui também: “É solitário morrer em África”.

 EUGÉNIO GUERREIRO


    

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