As
políticas públicas traçadas pelo Executivo têm vindo a mitigar o impacto da
crise económica e financeira sobre a população. Ao contrário do que sucedeu com
o colapso de alguns países da Europa, com manifesta incapacidade financeira
para o pagamento de salários da função pública, e socorridos pelo BCE e FMI, em
Angola o Executivo tem vindo a honrar os seus principais compromissos: ora com
salários, ora no serviço da dívida e esta estratégia tem tornado o país
credível aos olhos dos mercados financeiros internacionais. Para além disso,
defensores do pensamento keynesiano, os economistas do Executivo preferiram
cortar a despesa do que aumentar a carga fiscal.
As
últimas intervenções públicas do Presidente da República sobre esta matéria
foram esclarecedores e ajudam-nos a compreender a situação em que nos
encontramos hoje. Todavia, também é verdade que os indicadores apontam para uma
melhoria do cenário caso se mantenha a tendência de estabilização do preço do
barril do petróleo na casa dos 60$ em 2017.
Ou
seja, quando olhamos para o retrovisor ficamos claramente com a sensação de que
o pior passou embora o caminho se mostre ainda adverso. O recente comunicado do
Ministério das Finanças é uma prova disso. Em rigor, a inversão do quadro
económico depende, em grande medida, de algumas opções de política interna
tendo em vista, antes de tudo o crescimento económico mediante a promoção da
produção nacional, a substituição ou redução drástica das importações pelo
produto nacional e agregar valor aos bens locais para que estes sejam
competitivos e transacionáveis ao nível internacional, permitindo ao país
captar divisas em outros sectores para além do petróleo.
Nunca
como hoje se falou tanto em produção nacional e é urgente que esta assuma um
papel relevante no cardápio de bens utilizáveis no nosso quotidiano. O jargão
clássico da economia angolana, ditado pelo Presidente Neto, continua
veementemente actual, ou seja, a agricultura é a base e a industria o factor
decisivo.
Pelo
menos do ponto de vista potencial temos condições para lá chegar, basta-nos
operar algumas reformas no modelo de organização do sistema económico e
financeiro. Não podemos promover a produção de um bilhão de ovos sem que haja o
milho. Não podemos aumentar o turismo enquanto continuarmos com uma estrutura
de custos elevadíssima e a maka dos vistos por resolver. Não poderemos
industrializar sem o concurso do investimento estrangeiro directo, criando
condições de mercado para a entrada dos grandes industriais internacionais. Não
podemos diversificar sem o concurso dos maiores produtores mundiais em
diferentes segmentos. Sim, no sector dos petróleos que é a “galinha de ovos
dourados” encontramos a presença de todas as maiores empresas no mundo. Temos
de admitir, noutros sectores, que o mesmo se faça, ou seja, abrir as portas ao
investimento estrangeiro directo de forma massiva. E neste quesito, louvamos a
visão do Executivo de reiterar, junto do FMI, completa disponibilidade para um
programa de assistência técnica à diversificação.
Dos
colossos da região, apenas a Shoprite encontra-se entre nós. Nos últimos dias,
as redes sociais foram infestadas por uma carga de imagens retratando uma
grande procura pelos produtos num dos supermercados da capital. Desde logo, é
bom notarmos que não se trata de qualquer medida de racionamento ou crise
alimentar por escassez de bens, principalmente alimentares no mercado.
Todos
sabemos a razão daquela situação: A procura dos populares aos produtos da
shoprite explica-se por uma estratégia comercial, muito comum nas grandes
superfícies comerciais, que potenciam os seus ganhos pela venda massiva, ainda
mais porque a marca sofria de uma imagem negativa que associava os seus
produtos à baixa qualidade ou em estado indevido. Ora, este fenómeno é comum em
qualquer parte do mundo. Quem nunca viu imagens da abertura dos saldos, em
Janeiro e Agosto, em grandes metrópoles como Londres, Nova York ou Paris. Em
Portugal, por exemplo, o Pingo Doce apresentou durante algum tempo uma
estratégia similar.
Aqui
há apenas uma diferença: Naquele caso, os clientes são os consumidores finais
que procuram principalmente electrodomésticos. No nosso caso são os pequenos
comerciantes, maioritariamente ligados ao sector informal, que encontram
naquela cadeia uma oportunidade para revenda.
Ora,
é necessário desdramatizarmos e não levarmos ao extremo, fomentando até uma
certa agitação com impacto perverso sobre a confiança e pressionando a própria
rede comercial, criando rupturas de stocks.
(*) In Jornal de Angola 13 de Julho 2016
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