A economia no Jornalismo ou o jornalismo económico de Angola

Adebayo Vunge (*)
Ponto Prévio
Depois de ter proferido uma palestra no segundo semestre de 2015, na Universidade Privada de Angola (UPRA), sobre o tema “O valor económico das notícias - Uma análise ao jornalismo económico em Angola”, decidimos então desenvolver algumas das notas que fizemos naquela ocasião para este verbete que publicamos hoje.
Na altura em que escrevo estas notas e olhando para o noticiário a manchete no contexto internacional é o resultado da votação do impeachment contra a Presidente Dilma Roussef, ao nível da Câmara dos representantes, no Brasil. Apesar de este ser um facto de interesse internacional, no contexto angolano, o interesse noticioso advém da proximidade histórico-cultural e comercial com o Brasil.
Cultural na medida em que partilhamos a mesma língua; histórica na medida em que o comércio triangular criou as bases para uma ligação profunda entre Angola e o Brasil, inicialmente por via da transferência de homens angolanos na condição de escravos, para participarem nas plantações de cana-de-açúcar, cacau e outros produtos agrícolas algodão no Brasil, desde os seculos XVI, XVII e XVIII. Hoje, estas trocas e a parceria entre Angola e o Brasil assentam numa dimensão económica e comercial forte com índole pública e privada. 
No contexto nacional certamente o grande assunto da actualidade continuará a ser ditado por dois factos principais: o primeiro que prende-se com o anúncio de um programa de assistência técnica do FMI à Angola; e o segundo que se prende também com o anúncio do pagamento de taxa de saneamento pelos cidadãos da província de Luanda contribuindo assim para a melhoria das condições higiénicas da capital e de outras cidades de Angola. 
Estranhamente ou não, a raiz de qualquer um destes factos é iminentemente económica (a acusação formal que pesa sobre a Presidente Dilma; a relação de Angola com o FMI e o seu impacto nos mercados internacionais e a dimensão económica e social do lixo e saneamento básico de uma cidade como Luanda). 
E dizíamos então que, olhando para a história de jornalismo, nós somos obrigados a pensar que, o jornalismo económico está muito associado, ele também, ao nascimento dos primeiros órgãos de comunicação social, dos primeiros jornais no mundo... e em Angola. Estamos a referir-nos às Acta Diurna Populi Romana ou se quisermos podemos considerar também as folhas rolantes, que circulavam em Roma antiga e que prosseguiram com grande intensidade no Renascimento e Idade Média.
As estampadas em murais diários e as folhas rolantes (Aviti), na medida em que traziam com regularidade notícias relativas ao pagamento de taxas e impostos pelos cidadãos, no Império Romano e outros estados monárquicos, representaram um momento crucial para o nascimento do jornalismo económico, tal como hoje o entendemos. (VUNGE: 2006)
E esta realidade, curiosamente, aplicar-se-á também, séculos depois, ao nascimento da imprensa em Angola, na medida em que o Boletim Oficial, que hoje é o Diário da República, também tinha esta carga económica de forma muito evidente. Então, quando olhamos para história do jornalismo vemos que este momento fundador está muito associado também ao surgimento ou são as primeiras manifestações do que é hoje o jornalismo económico.
Numa altura em que assistimos ao aumento do espaço e conteúdo do noticiário económico, em toda a média nacional, a questão que se coloca é a de saber qual é o conceito de jornalismo económico que temos e qual tem sido a narrativa apresentada.
De acordo com Maria Jacobini (investigadora da Sociedade Brasileira de Jornalismo) “no seu conjunto, o jornalismo econômico pode ser definido como uma "divulgação de fatos e questões relacionadas à economia e ao sector financeiro". Entretanto, a observação mais significativa do conceito de jornalismo leva-nos a colocar em evidência, mais do que em qualquer outra especialidade temática – desportivo, cultural, político, etc – o jornalismo económico evidencia-se um tipo diferente do jornalismo. Porquê?
Porque, não só única e exclusivamente reforça a dimensão informativa, mas principalmente valoriza a componente explicativa. Por isso, acreditamos que o jornalismo económico realiza-se na entrevista, no comentário e na reportagem mais do que a notícia ou a resenha. 
Por outro lado, o jornalismo económico estabelece uma relação com a lógica capitalista ao olhar para a empresa de comunicação social cujo produto principal é a informação (olhemos para centrais de informação financeira como a Bloomberg). Se para alguns esta lógica pode afectar a credibilidade na medida em que coloca dúvidas sobre a veracidade e rigor da informação, outros autores acreditam que este factor em nada afecta a sua credibilidade, usando a afirmação dos conglomerados como uma prova do seu valor e credibilidade. Entretanto, temos para nós que o jornalismo económico está igualmente ao serviço do público, embora com um olhar sobre o ciclo económico de uma região havendo uma separação entre a componente empresarial e a componente jornalística das empresas de comunicação social. Esta é a ética teleológica e aqui voltaremos.
Narrativa, Média e Economia
Nos tempos que correm estamos marcados, de modo indelével) pelo impacto das novas tecnologias na informação e comunicação (TIC´s) e este fenómeno interfere na produção, gerando aquilo que alguns sociólogos chamam de inflação informativa, ou seja, há um excesso de informação versos a procura ou capacidade de consumo. Qualquer um de nós, hoje em dia, fruto das novas tecnologias, terá dificuldades em consumir no imediato o volume de oferta informativa que temos disponível, impondo-se cada vez mais uma rigorosa selecção da informação que consumimos.
Mas repito, nem sempre há essa capacidade dos destinatários consumirem dai que haja uma selecção nalguns casos e noutros há mesmo uma dificuldade de apreensão e de consumo, uma seleção de um clipping que geralmente privilegia as noticias de especialidade, dai então que as pessoas ligada às finanças tenham maior propensão em consumir matérias do indole económica e financeira, sem prejuízo de outras que possam gerar interesse e que interfiram muitas da vezes na nossa própria actividade profissional, o mesmo se passará com os profissionais de outras áreas.
Quem só de finanças sabe, nem de finanças entende… dirão alguns.
É curioso notarmos que, voltamos a analisar as noticias também na óptica do processo produtivo, o modo como elas são geradas e aqui fazemos uma diferenciação entre os factos e as noticias, para assinalar que aquilo que torna um facto numa notícia são os factores de noticiabilidade ou os valores-notícia, isto é, aqueles valores que permitem a elevação de uma facto à categoria de noticias, resumindo-se em: actualidade (que é o pilar), pertinência, proximidade e o interesse (TRAQUINA).
Por fim, temos de olhar para os valores-notícias também na óptica de profissionalização do jornalismo, porque é essa capacidade de discernir os factos, na óptica de sua noticiabilidade, que confere valor ao jornalismo nos dias que correm, pois, muitas das vezes, fruto das novas tecnologias, ouvimos pessoas a referirem-se ao facto de que todos somos jornalistas e, porque todos temos a capacidade com um telemóvel filmar, filtrar e divulgar, mas muitas das vezes também ou na maior parte das vezes essa mesma produção não insere em si o valor noticioso.
 Isto ocorre na medida em que nem sempre vem carregado dos factores que gerem a noticiabilidades, estes valores decorrem dos que citamos, e ai entra claramente em evidência a capacidade do jornalista em dar o tratamento devido para divulgação da informação. Não nos basta recolher. É mais importante o tratamento da informação. 
Num ambiente de concorrência atroz entre os meios de comunicação, importa perceber quais são aqueles que vingam. São aqueles que têm maior capacidade de gerar o agendamento, de gerar o agenda-setting influindo no espaço público, ou seja, aqueles que, tendo um facto conseguem torna-lo noticioso e dominar a agenda pública. Para que uma matéria consiga dominar o espaço público, deve conter em si os factores de noticiabilidade: factos relevantes, ganham amplitude e consonância, explorando a proximidade geográfica e cultural. O facto não é independente, acção do jornalista da-lhe a projecção devida.
Há elementos intrínsecos à identidade dos povos que fazem com que uma notícia não tenha o mesmo peso, não tenha o mesmo valor noticioso em latitudes diferentes, mas, por outro lado, aquilo que se passa no vizinho, aquilo que passa na província ao lado, aquilo que se passa no país ao lado, certamente terá maior interesse. Temos também a personalização dos factos que tem a ver com as pessoas envolvidas pois, todos sabemos que, por hipótese a movimentação de um Presidente da República, a partida, e por se tratar de um presidente, gera “naturalmente” o interesse noticioso, não se passando o mesmo com a movimentação de um qualquer cidadão.
Ora, apesar disso, apenas um acidente ou catástrofe de um cidadão terá este impacto noticioso, naquilo que os anglo-saxónicos chamam bad news are good news, ou seja, as más notícias são as melhores notícias: as catástrofes, acidentes, falências e mortes, crash etc. porque estes são inesperados e um elevado nível de consequência.  
No entanto, há outros factores subjectivos que interferem na noticiabilidade: a organização jornalística; a linha editorial; o jornalista e as suas convicções e ideologia, etc. 
Sobre os pressupostos enunciados acima, gostaria de destacar o jornalista, pois este imprime um olhar sobre os factos, determinando o interesse que estes possam ter ou não para o público. Embora se considere a existência de uma cadeia (repórter, redator, editor, etc), a verdade prova-nos que certos factos poderão ter menos interesse, poderão ser menos apelativos que outros que merecem maior atenção. Os editores têm um peso importante na definição do que devemos ou não publicar, porque aqui é preciso fazer uma destrinça, que a notícia, não o facto em si, é veiculada com um certo conteúdo. O que nos coloca diante da questão seguinte: quais são os factos (ou o conteúdo) de interesse para o jornalismo económico.
Terá a ver necessariamente com a difusão, a interpretação dos factos ou temas de cariz económico e financeiro, assim como outras especialidades do jornalismo se debruçam sobre assuntos específicos: jornalismo desportivo, jornalismo cultural,  jornalismo político e jornalismo social. E, no jornalismo económico encontramos a dicotomia entre a lógica mercantil e a lógica comunicacional.
Mas interessa-nos sobretudo olhar para a lógica empresarial, pois torna a notícia num produto, e esta lógica que preside as agências de notícias económicas e financeiras (tipo Bloomberg e Reuters), cujo metièr é produzir e vender notícias, e este é uma realidade pouco comum entre nós. O que notamos, entretanto, é que  tenderemos a caminhar por ai embora incontestavelmente, na medida em que a informação cada vez mais é um factor de interesse nos mercados, determina preços e opções empresariais, condiciona e determina a lógica e os fluxos dos mercados.
Um dos elementos do sistema económico e financeiro que joga de forma directa com a informação é o Mercado de Capitais. Este funciona numa lógica da informação; informação sobre a economia, mas também sobre política e questões sociais. Todos sabemos o impacto que gera sobre os mercados uma eleição presidencial, por exemplo; a divulgação de alguns indicadores macroeconómicos como taxas de câmbio e taxa de desemprego, os resultados financeiros das empresas mais significativas do país; etc. 



O jornalismo económico, no Estado pós colonial começou a ganhar corpo desde o lançamento do SEF (Programa de Saneamento Económico e Financeiro), cuja implementação iniciou na segunda metade dos anos 80, mas que acabou por ser abandonado, por várias razões que não importa aqui aflorar mas podem ser revistas nas obras de JONUEL GONÇALVES. Num artigo intitulado Angola 40 anos de Finanças Públicas, publicado na edição de Novembro de 2015 da revista Finanças Públicas, do Ministério das Finanças, o economista António da Cruz Lima considera este período como sendo “Adolescência Económica da República – 1985-1994”, tendo como traços marcantes o seguinte:
“As finanças públicas de então viram desaparecer a taxa de câmbio fixa, os preços fixados subsidiados acima dos 90% e as isenções aduaneiras para as importações do Estado, enquanto a inflação atingia os 1491% ao ano. Nesta década da incerteza (…) a população concentrou-se na capital, fugindo aos horrores da guerra urbana. Luanda ditava o ritmo da inflação do e do câmbio. Os programas eram muito curtos, indo dos 8-12 meses. Os orçamentos revistos a cada cinco meses”. (LIMA, 2015)
Do ponto de vista jornalístico, O que se seguiu foi um processo histórico-económico marcado por dois momentos:  a concentração das publicações de um caracter oficial, com uma abordagem que reflectia a ideologia dominante, ora sobre as realizações do Estado, ora sobre as unidades de produção. O segundo momento é marcado pelo nascimento da imprensa privada onde se assiste uma preocupação em ouvir outras vozes e sensibilidades político-empresariais, principalmente do mundo académico, fugindo o formalista dogmático e estatal e uma preocupação muito acentuada na interpretação dos factos.
Ao longo dos anos 90, há não só a assumpção desta nova lógica do jornalismo económico, como a emergência do jornalismo económico marcado por uma economia do mercado onde alguns jornalistas merecem aqui o nosso destaque na medida em que impulsionam esta mudança, podemos citar aqui alguns nomes de jornalistas que foram fundamentais nestes processos no nosso ponto de vista: Reginaldo Silva, António Freitas, Mário Paiva, Luís Júnior, Mariana Ribeiro, Gustavo Costa, Samuel Chissingue e Cristóvão Neto, para além de novos nomes que despontaram nos últimos tempos – Evaristo Mulaza, Jorge Zua, António Nogueira, António Pedro e outros. Como não eram economistas, o espaço de analise foi preenchida por analistas da estirpe de Jonuel Gonçalves, Galvão Branco, Lago de Carvalho, Alves da Rocha, Paulo de Carvalho, Carlos Gomes e outros que preencheram as emissões de rádio, TV´s e páginas dos jornais formulando opiniões e interpretando os factos económicos relevantes como a situação do mercado cambial, taxa de inflação, casos de sucesso no sector privado, aprovação e revisão do OGE e pouco mais. Também é importante referir que o conteúdo, neste tempo, este circunscrito aos grandes temas económicos da época. Neste período, RNA, LAC, TPA, Jornal de Angola, Comércio Actualidade, Correio da Semana, Agora, Angolense, revista Energia e algumas publicações afectas aos ministérios dominaram o panorama mediático angolano (Luandense?) trazendo abordagens de cariz económico.

Em 1998, temos de sublinhar o facto de ter surgido o prémio Kianda de Jornalismo económico, uma iniciativa da Associação dos Jornalistas Económicos de Angola (AJECO), com o patrocínio da Intercomercial Moagens que assim apadrinhava a atribuição do prémio. Este teve o condão de estimular a profissionalização da abordagem das matérias de cariz económico, embora tenha sucumbido poucos anos depois devido as dificuldades financeiras do patrocinador, que a dado momento tornou-se também co-proprietário de uma publicação, o Jornal Angolense. 
Apesar disso, não podemos deixar de realçar outros momentos como o boom das revistas de economia (Economia & Mercados, Figuras & Negócios, Estratégia) e o aparecimento do primeiro jornal de especialidade e económica, o Expansão, a 12 de Fevereiro de 2009, uma iniciativa de um grupo de jovens angolanos regressados de Portugal e animados pelos novos rumos da economia angolana – Domingos Vunge, Arlindo das Chagas e Walter Fernandes, associados a determinados grupos económicos lançam-se nesta iniciativa. 
O lançamento do Expansão é antecido pelo Novo Jornal, uma verdadeira pedra no charco do panorama mediático nacional, demarcando-se pelo rigor e a separação entre informação e opinião. Convém sublinharmos que enquanto aprimorávamos este artigo, fomos surpreendidos com um novo projecto gráfico do Novo Jornal que suprimiu os cadernos de Economia e Mutamba. O Expansão segue-lhe a tendência apostando num grafismo inovador e uma abordagem focalizada nas matérias económicas. Do ponto de vista do jornalismo económico, o Novo Jornal traz, entre os vários cadernos, um encarte cujo conteúdo é apenas económico, deixando claro sinal de que era o momento de aparecimento de uma publicação apenas com este teor.  E como vimos, não tardou. Precisamente, um ano depois do NJ nasce o Expansão.
O nascimento do Expansão coincide com uma fase de reaquecimento da economia angolana, saída da guerra e marcada pela reconstrução fruto de um ambicioso programa Nacional de Reconstrução que incluía milhares de quilómetros de estradas e pontes, escolas, hospitais, órgãos da administração do Estado, saneamento urbano e reabilitação das cidades que eram verdadeiros escombros, etc. Neste contexto, as Edições Novembro lançaram igualmente o semanário Jornal de Economia & Finanças.


Segundo Domingos Vunge, a escola para o lançamento do projecto Expansão foi a revista Estratégia. Após a venda da sua participação na Score Media, empresa que detém o Expansão, Domingos Vunge lançou-se em 2015 num novo projecto editorial, a Media Rumo,  grupo responsável por três inovadoras publicações – Jornal Mercado (de especialidade económica, mas com foco grande em banca e finanças), Revista Rumos (Business Inteligence) e o jornal Vanguarda (um jornal generalista voltado para políticas públicas de desenvolvimento). 
A consolidação do jornalismo económico na fase actual, do nosso ponto de vista, dá-se também com o nascimento de novas publicações em 2015 e 2016 focalizadas nas questões de cariz económico e financeiro. Referimo-nos aos jornais Mercado e Valor Económico distanciando-se do Expansão pelo formato, design e conteúdo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como considerações finais incumbi-nos dar nota de alguns programas actuais, desde logo embora de menor grau, começamos ai esta, notamos uma prevalência da especulação informativa à mesmo uma gritante, não diria gritante mais vamos assistindo a miúdo aqui acolá, alguns caso onde consideramos ter algumas especulações na abordagem de alguma matéria, e aqui poderá ter a ver com dois factores por um lado com a falta e de conhecimento de domínio de conceito fundamentais de macroeconómico e finanças, por outro lado com a inacessibilidade das fontes, inacessibilidade das fontes devido à falta de contactos dos próprios jornalista ou noutros casos devido a falta de abertura também das próprias fontes para divulgarem a informação que é do interesse público.
Por outro lado, notamos um cada vez mais maior profissionalismo na organização do jornalismo feito em Angola, devido ao surgimento, num primeiro momento de programas de televisão e de rádio e, no segundo momento, de publicações especializadas em questões económicos, desde da revista Energia, comércio externo nos primeiros anos e o jornal Valor Económico no começo de 2016.
Notamos com agrado o trabalho desenvolvido pelos meios de comunicação social, especializados nas matérias económicas quer na formação, assim como na informação de matérias de interesse económico/financeiro junto da opinião. 
Com o êxito da primeira emissão de eurobonds torna-se mais premente o desafio de compreender-se correctamente as realizações do sector das finanças públicas, ou seja deve haver por parte dos media conhecimento técnico sólido dos fenómenos económicos e o seu impacto sobre os mercados financeiros havendo então uma verdadeira especialização de jornalistas económicos, com um rigor que se paute pelo rigor e responsabilidade não cedendo ao imediatismo, sob pena de produzirem uma informação que agita os mercados financeiros, os investidores e as agências de notação de risco e criando vários prejuízos.
Os economistas, muitas vezes, encontram falhas na maneira como a informação de cariz económico é divulgada pelos jornalistas. Isso é comum no OGE como no balanço financeiro de um banco. O volume de investimento de uma fábrica como os resultados do leilão dos títulos do tesouro, ou ao invés dos números concentram-se nas tendências só para exemplificar. 
Quando isso sucede, eles acusam rapidamente a imprensa de ignorância, distorção e uma ênfase equivocada sobre um aspecto diferente do preferível. No entanto, os jornalistas são acusados ​​com e sem razão: com razão na medida em que muitas vezes se revela um gritante desconhecimento dos fundamentos económicos e sem razão na medida em há também algumas falhas de comunicação dos próprios economistas que fazem discursos incompreensíveis e longe das reais preocupações dos cidadãos. 
Os economistas-académicos estão muitas vezes preocupados com as questões de política e esforçam-se em elaborar teses ou desenhar insights para os políticos. Este exercício nem sempre resulta frutífero no espaço público. Por alguma razão, segundo a observação do estudioso Richard Parker da Universidade de Harvard, os médias preferem os analistas (no caso Americano de Wall Street). Claramente, a questão de Parker é a de perceber o caminho para ultrapassar esta situação. E a sua resposta é clara: os jornalistas devem melhorar o seu nível de literacia económica. E se isso é tão válido para a imprensa norte-americana, como ele sublinha, imaginemos o que dizer da realidade angolana… Foi claramente este o propósito de um curso ministrado pelo Instituto de Formação em Finanças Públicas e dirigido aos jornalistas angolanos que abordam quotidianamente as questões de economia e finanças públicas.
Envolvido pessoalmente, por isso, é nossa profunda convicção de que iniciativas como esta, com um quadro de docentes de orgãos centrais ministério das finanças com elevados conhecimentos fará emergir uma abordagem com maior profundidade sobre as matérias económicas. Importa realçar a necessidade de uma maior especialização dentro das questões económicas.
Por isso mesmo, nos tempos que correm, é fundamental dotar os jornalistas de conhecimentos técnicos sobre o funcionamento do sistema económico nacional, com vista a garantir melhorias na compreensão da opinião pública e uma correcta abordagem dos fenómenos de natureza económica e financeira e das medidas emanadas pelo executivo para fazer face ao dilema actual, ou seja, uma reforma estrutural que nos permita abandonar o modelo de economia com monocultura fiscal.
Os media quer generalistas quer especializados, devem ter um maior e melhor domínio e um espaço cada vez maior sobre as diferentes áreas e questões de economia e financeira que interessam aos particulares, empresas e outras entidades. 
E não só, e teve continuidade tanto é que vimos despoletar também outras revistas, mais jornais foram nascendo então à digamos um futuro jornalismo económico que se nota no impacto e no aumento de publicações e da divulgação cada vez maior deste tipo de informações por outro lado notamos também que ao contrario daquilo que venhamos assistir alguns anos, onde as questões económicas tinham um tratamento politizado, hoje vamos assistir um cenário diferentes e estas questões recebem um cunho mais concernente à questão económica e menos politizado procurando explorar devidamente outras plataformas tecnológicas para a disseminação deste género de informação.
(*) Docente                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
António Freitas


Emprestado a Assessoria de Imprensa, António Freitas é um dos mais destacados e antigos jornalistas a lidar com as matérias económicas. Iniciou, como muitos da sua geração, na imprensa pública, neste caso na ANGOP, e posteriormente seguiu para o sector privado. É um dos sócios fundadores da cooperativa de jornalistas Agora, onde foi seu chefe de redacção. Em 2008 abraçou outro projecto jornalístico, o Novo Jornal, de que foi o seu editor-Chefe até 2011 quando se mudou para a Endiama.

“O choque petrolífero de 1986 fez nascer o jornalismo económico”

Como avalia hoje o jornalismo económico feito em Angola?
O jornalismo económico que se faz hoje em Angola ainda é bastante fraco. Isto apesar de terem surgido, sobretudo na imprensa dita escrita, novos títulos. Falta mais profundidade, salvo algumas excepções, como o semanário Expansão. O Valor Económico também está no bom caminho, mas poucos dão-se conta, por exemplo, da existência do jornal Economia & Finanças, que até é propriedade das Edições Novembro, uma empresa pública. Há poucos jornalistas formados na área.

Haverá um antes e um depois, qual é para si o ou os marcos do jornalismo económico angolano?
Não sei se podemos considerar como um marco do antes e depois no jornalismo económico feito em Angola, mas devo referir que a partir do primeiro grande choque petrolífero pós-independência, em 1986, quando o preço do barril veio para baixo dos 20 dólares e as autoridades do país foram obrigadas a lançar o programa de saneamento económico e financeiro (SEF) e Angola a aderir ao FMI, começou-se a falar mais de economia.
Os economistas ganharam mais visibilidade e a comunicação social começou a dar mais atenção aos assuntos económicos.
Mas é de realçar que antes desta fase, já a agência de notícias ANGOP tinha sido pioneira ao criar uma editoria de economia.
Também a participação de Angola na Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC), depois SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), trouxe mais “inputs” ao jornalismo económico angolano.

E quando olhamos para a narrativa, há um discurso jornalístico que satisfaz?
O discurso jornalístico em assuntos económicos é um dos grandes desafios que o jornalista especializado em economia tem pela frente. A linguagem económica, o “economês”, nem sempre é de facilmente perceptível. E o jornalista tem a dura missão de tornar o texto acessível a todos, o que nem sempre é fácil. Por isso, é preciso explicar o que são o défice, a balança de pagamentos, a inflação, os títulos do tesouro, os eurobonds ou o down-payment. Estes termos, entre outros, devem ser “traduzidos”, para linguagem mais compreensível. E esta é uma tarefa que nem sempre os nossos colegas cumprem na imprensa angolana. Limitam-se muita das vezes a reproduzirem o amontoado de números tirados de um relatório, ou a passarem na íntegra as declarações do entrevistado, sem eles próprios (os jornalistas) compreenderem muita das vezes o alcance de tal discurso. É preciso melhorar muito. E isto obriga a muita formação.

Há um número de publicações de especialidade, mas parece que o mesmo não sucede com os audiovisuais. Qual acha que será a tendência nos próximos anos?
A tendência será para o surgimento de jornais digitais, aproveitando as novas tecnologias. Regra geral, estas publicações podem ser estruturadas com menores custos de produção, com redacções mais comprimidas e a sua leitura é facilitada pelo formato das edições digitais.  



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