Adebayo
Vunge (*)
Já
não restam dúvidas o quanto todos somos chamados a participar de modo mais
directo e incisivo na promoção do desenvolvimento humano e sustentável do nosso
País. Contudo, as instituições, em particular as empresas, têm, para mim, um
papel mais significativo. As empresas geram valor e este tem de ser partilhado com
todos os seus stakeholders.
Neste
sentido, as empresas, mesmo num contexto mais difícil como o que vivemos hoje,
ou talvez agora mais do que nunca, devem assumir a sua dimensão de
Responsabilidade Social Empresarial ou Corporativa. O Estado não poderá assumir
sozinho todos os desafios do nosso tempo. A sociedade, neste caso particular as
empresas, devem partilhar o desafio e assumir esta postura como uma obrigação
moral.
Ao
falarmos de RSE estamos a olhar para os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio, em alinhamento com os pilares do Global Compact. De resto, estamos já
viver uma fase de cultura empresarial mais sólida, onde não confundimos a RSE
com filantropia, assistencialismo ou caridade, o que em nada se confunde com
solidariedade ou sustentabilidade social. Diz o ditado que quem ajuda é aquele
que nos ensina a pescar e não aquele que simplesmente nos oferece o peixe.
Numa
realidade como a nossa não é possível que as empresas estejam desalinhadas com os
grandes desafios do seu meio. Recentemente fui informado do assalto numa
pequena unidade fabril algures no Cazenga. E o que se constatou: nenhum dos
trabalhadores da fábrica é residente das suas circunscrições para além de
inexistirem outros programas que não sendo obrigatórios àquela unidade poderiam
sem dúvida tornar os moradores nos primeiros “guardas” do empreendimento.
Os
programas de responsabilidade social, como frisamos atrás não estão apenas
direccionados para o público externo. Em primeira instância, são os
trabalhadores, fornecedores e parceiros que devem ser vistos como
alvos-referenciais de qualquer PRSE, alicerçado no plano das comunidades locais
(aldeias, comunas e municípios).
É
interessante notarmos que, em Angola, apesar de existirem poucos estudos, uso
como base um relatório apresentado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) em 2013. Segundo esta agência da ONU, três sectores
destacam-se: as companhias petrolíferas (internacionais), as empresas de
construção civil (de matriz brasileira) e as empresas de transporte, às quais
podemos acrescentar dispersos casos na indústria diamantífera, nas
telecomunicações e ainda nos seguros.
Outro
detalhe curioso do estudo que podemos extrapolar para o actual contexto
prende-se com o facto do sector bancário, apesar da sua elevada rentabilidade,
mesmo na actual conjuntura, deter poucos programas estruturados neste sentido,
independentemente da mediatização que estes tenham ou não, o que denota o
quanto estas se encontram longe da realidade dos seus clientes. Surpreende, por
exemplo, o quanto o processo de bancarização que tem uma dimensão social,
económica e até politica forte ter sido pouco explorado pelo sector neste sentido.
O
mais surpreendente, nesta direcção, é o quanto as empresas ora menosprezam, ora
desconhecem projectos sociais e culturais estruturados que poderiam estar
alinhados aos seus programas. E, por isso, admiramos todos aqueles que em
sectores imprevisíveis nesta matéria, entre nós, como é a agricultura e que
ainda assim procuram estruturar-se tendo a RSE como filosofia de gestão. Neste
capítulo, vamos encontrar a fazenda Pérolas do Kikuxi com um projecto de
reinserção de ex-presidiários, resultando daí casos muito significativos de
reintegração social.
No
fundo, embora se reconheça que as adversidades da conjuntura actual tornem
menos propícias estas iniciativas, também devemos ter para em conta a dimensão
social dos negócios e o impacto do desenvolvimento humano nas empresas, no
prisma da valorização do capital humano em todas as suas asserções – educação,
saúde, cultura e artes, desporto, ciências e inovação, promoção do género,
promoção social e educação ambiental. É um verdadeiro investimento social que
nos deve orgulhar a todos. Independentemente da sua componente de retorno
contabilístico ou não, a Responsabilidade Social nas nossas empresas deve ser
vista como um princípio chave para o êxito dos negócios.
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