A retórica da mudança e maturidade

Agora é à doer! como sói dizer-se na gíria futebolística. Desde domingo, 23 de Julho, começou a corrida final para o pleito eleitoral do próximo dia 23 de Agosto.


O partido no poder demonstrou um avanço no aquecimento, depois de, durante vários meses, o MPLA ter dado conhecimento aos eleitores do rosto e da filosofia do seu novo candidato presidencial, o General João Manuel Gonçalves Lourenço. Na sua pré-campanha percorreu já todas as capitais de províncias e alguns municípios, tendo assim promovido o contacto directo com largos segmentos da população, que o recebeu com notória emoção. Isto ficou patente quando despertou reacções de levantar emoções: no Bié, foi aclamado nas ruas – “Wetu Weia – o nosso filho voltou!”; no Cunene sentou-se na imbala das autoridades locais, como um pouco por toda a parte; em Luanda, no encontro com a juventude arrancou o entusiasmo destes que se amontoaram para uma selfie com o candidato do MPLA.
Do ponto de vista da mensagem política, analisando todos os candidatos, isto é, claramente se identifica a mensagem comum: A retórica da mudança. ”Mudança” será talvez a expressão mais usual do nosso léxico político. Não me cabe nestas impressões digitais, e não me sinto analista político, para aqui avaliar quer o mérito quer a competência dos concorrentes. Quero, todavia, realçar que quer o MPLA quer a UNITA e a CASA-CE realçam esta mensagem. Os seus slogans são um apelo claro à mudança. Ao assumir a mudança, estamos a deixar claro que se impõe melhorar, que se impõe corrigir, que se impõe ajustar, que se impõe revisitar, que se impõe uma postura e uma abordagem diferente, no discurso, nas mentalidades e na atitude. De todos. De quem estiver no Governo, mas também de quem estiver na oposição. Da população, como do clero.

Assim, é esta a enfase que tem sido dada para a necessária mobilização do eleitorado pois corremos o risco de continuar a assistir o aumento da desconfiança e do cepticismo em relação aos políticos. Algumas posturas e alguns discursos levam a isso. É importante, para quem quer que ganhe, compreender que chegou a hora de garantirmos, sem margens, maior coerência e consistência entre a acção governativa e o discurso político. É importante compreender e atender as reais necessidades e expectativas da população. E é também isso que urge mudar, sob pena de acentuar os sinais de descrença na política e o absentismo.

Com certeza, nesta matéria, o pós-23 de Agosto será ainda mais importante. Quem vencer dará um grande exemplo se de tal vitória não resultar uma simples imposição total aos que perdem. Quem perder não deve agarrar-se ao estratagema do bloqueio. É importante que haja uma evolução do diálogo político, da concertação de forças e da expressão das partes no Supremo interesse do Estado.

Não podemos, entretanto, deixar de assinalar a evolução dos nossos processos eleitorais e tentar enquadrar o estágio de maturidade em que nos encontramos e com ele a nossa democratização. É animador perceber que os partidos existentes vão caminhando no processo de democratização com um sentido de Estado e responsabilidade. Com certeza, nesta matéria, o pós-23 de Agosto será ainda mais importante. Quem vencer dará um grande exemplo se de tal vitória não resultar uma simples imposição total aos que perdem. Quem perder não deve agarrar-se ao estratagema do bloqueio. É importante que haja uma evolução do diálogo político, da concertação de forças e da expressão das partes no Supremo interesse do Estado.

Ainda em sede da campanha eleitoral, um indício de mudança seria começarmos a viver a grande emoção do debate entre os candidatos, seus vices, mandatários e ligas de juventude. É uma cogitação que vem de alguns lados. É verdade que não é um exercício essencial às campanhas eleitorais, entretanto, temas importantes para a nossa realidade como o combate a corrupção, a saída da crise e o crescimento económico, o salário mínimo nacional, a reforma do Estado, a melhoria dos serviços sociais, em particular da saúde e educação, a descriminalização do aborto, o reconhecimento dos direitos da comunidade LGBTQ, a promoção das garantias e, liberdades fundamentais, estimulariam a direcção de voto, sobretudo dos indecisos. A ausência do debate directo dos candidatos ou seus vices será também uma fraqueza dos nossos meios de comunicação social e a urgência, no nosso cenário político, do aparecimento de centros de pesquisa e estudos político-eleitorais, como sucede noutros quadrantes?


Finalmente, noto que as evoluções inevitáveis já estão feitas. O nosso processo eleitoral actual já abarcou a mudança imposta pelas redes sociais a disputa activa entre os candidatos e seus militantes, como acontece no Facebook por exemplo e também no WhatsApp. São mudanças que confirmam o amadurecimento do nosso processo de democratização.  

Publicado na edição do dia 25 de Julho, no Jornal de Angola: 
http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/a_retorica_da_mudanca__e_maturidade


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