IMPRESSÕES DIGITAIS Esticar a corda na península norte-coreana

A crise na península coreana é o tema da actualidade na maioria dos noticiários a nível internacional, fruto da insistência de Kim Jong-un em romper com as convenções internacionais de não proliferação de armas nucleares. A Coreia do Norte parece não dar ouvidos a ninguém e avança com o seu plano, levantando uma grande celeuma no cenário internacional. China, Estados Unidos da América, Rússia, Japão e União Europeia desdobram-se em contactos de alto nível para encontrar uma solução.

Image result for north korea fires missile over japan
Apesar dos esforços no sentido de uma solução negociada, as partes mais implicadas no tema – Estados Unidos da América e Coreia do Norte – estão sem contenção verbal para manifestar a sua ira. No entanto, não se descartam outras soluções – desde logo, e em resposta aos testes de Pyongyang, Washington deve avançar com a instalação de um sistema anti-missil para proteger o seu aliado sul coreano. Uma outra hipótese, menos provável, prende-se com a colocação de armas nucleares na Coreia do Sul, o que elevaria definitivamente o tom e a escalada para o primeiro tiro. Por fim, existe uma solução mais radical que se prende com uma ofensiva militar cirúrgica de Washington e seus aliados ocidentais – a mesma expressão utilizada no ataque ao Iraque – pese embora o seu custo incalculável do ponto de vista humanitário, económico e geopolítico.

Ora, na encruzilhada em que se encontra, o regime da Coreia do Norte sabe que a sua subsistência é o seu poder nuclear, mesmo que isso represente um perigo objectivo para os demais países da região. Consciente deste perigo, a China pede diálogo e Administração Trump sabe que apenas o país de Xi Jimping tem o poder de influenciar, fruto da dependência energética e comercial de Pyongyang em relação à Pequim. Por isso, a maioria dos analistas convergem no sentido de que a chave para dissuadir Kim Jong-un da sua ambição nuclear é a China.

Ora, na encruzilhada em que se encontra, 
o regime da Coreia do Norte sabe que 
a sua subsistência é o seu poder nuclear, 
mesmo que isso represente um perigo 
objectivo para os demais países da região. 

No timing actual, onde andam e que papel podem exercer as outras peças do puzle? A Rússia, tida como uma das mentoras do programa nos anos 50, tem uma influência sobretudo ideológica e comercial, na medida em que é o segundo parceiro da Coreia do Norte. A União Europeia vive ensombrada com a resolução dos seus próprios problemas, sobretudo o Brexit, a crise económica em França, para além das eleições na Alemanha. Finalmente, encontramos também o Japão que se encontra vivamente preocupado com o poderio que a Coreia do Norte vai apresentando, cujos mísseis de longo alcance revelam capacidade para atacar algumas das suas ilhas. Afinal de contas, vemos hoje que o mundo subestimou o programa nuclear norte-coreano e mostra-se assustado com o arsenal do Kim Jong-un e a sua imprevisibilidade.

A instabilidade do Médio-Oriente está assim a penetrar sobre a Ásia e pondo em perigo a estabilidade e a prosperidade económica e social que aquela região tem experimentado nos últimos vinte anos. Apesar da cortina que paira sobre o País não tornando acessíveis informações sobre a realidade do país, estão enganados aqueles que associam a Coreia do Norte de hoje com a imagem da fome e catástrofes climáticas dos anos 1990. Só para termos uma ideia, o BOK – Banco da da Coreia (do Sul) estima que, apesar das sanções, o PIB norte-coreano coreano cresceu 3,9% em 2016.

Por outro lado, a crise na península coreana, mais uma vez, coloca em causa a capacidade da ONU em encontrar solução objectiva e imparcial face aos perigos e ameaças a paz mundial. O multilateralismo pode ser aqui posto em causa. A capacidade nogocial das Nações Unidas são aqui chamadas, mas seguramente as sanções podem não ajudar muito na resolução do challenge.

Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças
Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.


Comentários