IMPRESSÕES DIGITAIS - Os Prémios Sirius e o papel das firmas de consultoria no ambiente de negócios em Angola


As grandes firmas de consultoria em assuntos de índole económica e financeira, gestão de projectos, e outras áreas, há alguns anos atracaram em Angola com grande força.

Existem firmas angolanas neste segmento, mas parece-me que, fruto da reputação internacional que trazem, ainda são as big four que ficam com o fillet mignon do negócio – PwC, EY, Delloite, KPMG, às quais se junta, nos últimos anos, a McKenzie. 

Se por um lado é incontestável o contributo que estas firmas têm vindo a dar para a solidez e amadurecimento das nossas instituições públicas, empresariais e outras, não é também menos verdade que o seu trabalho entre nós tem provocado acesos debates. Em primeiro lugar, porque, ao contrário do que se supõe, os benditos consultores muitas vezes revelam ter menos experiência e conhecimento prático do que os entes ou entidades onde actuam. Mesmo que se trate da parte visível e que muitas vezes faz apenas o trabalho preliminar e de diagnóstico, é expectável que estes devam apresentar-se de outra forma. 

Em segundo lugar, um aspecto que tem vindo a chamar a atenção de grande parte dos observadores mais atentos à actuação das firmas de consultoria em Angola é o facto, ao que parece, as suas estruturas promover muito lentamente a transferência de know how para técnicos angolanos das suas estruturas ou mesmo para as instituições onde prestam serviço, ou seja, têm uma política de recrutamentos locais pouco consentânea notando-se nas suas estruturas uma gritante ausência de quadros angolanos e isso é ainda mais evidente quando olhamos para as suas estruturas directivas. 

Mas, no tocante ao papel fundamental destas empresas, é sem dúvidas, de destacar o trabalho que estas firmas têm vindo a fazer no sentido de promoção de uma cultura sólida de gestão, introdução de metodologias e dinâmicas novas, melhorias dos nossos processos organizacionais e de funcionamento. O actual contexto macroeconómico torna ainda mais premente este trabalho. Repito que isso é válido para os entes públicos, mas sobretudo privados e até particulares pois, face a complexidade dos novos tempos, estas firmas têm um background internacional forte que os permite aportar soluções mais adequadas para situações como aquelas por que passam as nossas organizações. 



no tocante ao papel fundamental destas empresas, é sem dúvidas, de destacar o trabalho que estas firmas têm vindo a fazer no sentido de promoção de uma cultura sólida de gestão, introdução de metodologias e dinâmicas novas, melhorias dos nossos processos organizacionais e de funcionamento. O actual contexto macroeconómico torna ainda mais premente este trabalho.



Por isso, destaco a introdução do Prémio Sirius pela empresa Delloite como sendo revelante para os tempos novos do nosso ambiente económico e visando a promoção de uma verdadeira cultura empresarial, colocando em destaque o tema da gestão. Há dias foi anunciado o júri, o lema e os propósitos para o prémio em 2017, cuja cerimónia de atribuição deverá ocorrer em meados de Novembro do ano em curso. Mais do que o prémio em si, destaco a introdução de uma cultura de gestão empresarial própria onde as acções e os resultados da actuação empresarial merecem o escrutínio directo dos stakeholders e também da sociedade, neste caso, por via deste prémio. 

Presto sempre muita atenção a determinadas categorias, de que destaco por exemplo, a escolha do “Melhor Gestor do Ano”, “Melhor Investimento Directo Estrangeiro”, “Melhor Programa de Responsabilidade Social”, “Melhor Programa de Desenvolvimento do Capital Humano” e “Melhor Empreendedor do Ano”. As outras categorias são de índole mais contabilística e financeira. As que assinalo aqui, juntando-se a de Melhor exportadora permitem-nos uma noção do ambiente de negócios em Angola e perceber “quem é quem”.

Apesar de todo o trabalho relevante que tem vindo a ser feito pelas empresas de consultoria, neste caso pela Delloite, que desta forma impõe uma dinâmica diferenciadora no papel das empresas de consultoria, creio que uma das categorias que deveria ser urgentemente considerada é a da análise ou jornalismo económico. Que órgãos, que jornalistas, que trabalhos têm sido feitos neste segmento no sentido de contribuir para uma melhor compreensão dos fenómenos e dilemas da economia angolana, africana e mundial, quando sabemos que o grau de literacia financeira e económica no seio do público angolano ainda é baixo, comparativamente a outros países. 

Por isso, julgo que é hora de, por um lado, exigirmos um processo mais intenso de angolanização também neste filão, ao mesmo tempo que importa acelerar o seu processo de transferência de know how para quadros angolanos. Ou seja, de estas empresas aparecem com técnicos de diagnóstico expatriados, porque não optar por mais jovens angolanos neste papel, poupando também, em última instância, o esforço de pagamento em divisas. Finalmente, e no tocante ao prémio Sirius, creio que se trata de uma iniciativa à qual devemos prestar grande atenção no sentido de percebermos as nossas dinâmicas de excelência em termos empresariais e do ambiente de negócios em que vivemos.

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