Adebayo Vunge |*
Hoje é o dia da investidura de João Lourenço e Bornito de Sousa nos cargos de Presidente da República de Angola e de Vice-Presidente da República, respectivamente. Sem dúvidas não é o nascimento de um País novo, mas é o nascimento de uma etapa nova no País. Há, portanto, como descreve o filósofo iluminista Jean-Jacques Reasseau, a renovação do nosso contrato social.
é importante que a educação seja a pedra basilar do edifício nacional. Precisamos de devolver qualidade ao sistema de ensino público e torná-lo de facto acessível para todos os angolanos. Não podemos permitir-nos ver crianças fora da escola, ao mesmo tempo que precisamos de valorizar os professores e promover as ciências, a inovação e o conhecimento, premiando o mérito e a competência dos actores do sistema de ensino
João Lourenço sucede ao Presidente José Eduardo dos Santos e torna-se o terceiro Presidente de Angola com legitimidade plena para, à luz dos poderes constitucionais, exercer os cargos de Titular do Poder Executivo, Chefe de Estado e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas.
Esta transição política a que se assiste em Angola pode tornar-se uma referência para o continente africano. Em primeiro lugar porque o Presidente dos Santos, mesmo dispondo da legitimidade para permanecer no poder prefere dele abdicar, deixando que uma geração mais nova dê continuidade ao processo iniciado pelos pais do nacionalismo angolano do ponto de vista da soberania do Estado, da consolidação da democracia e dos caminhos para o crescimento económico. José Eduardo dos Santos cumpriu o seu papel histórico, de um patriota pacificador. Em segundo lugar, porque assistimos claramente a uma mudança geracional do poder, cujos desafios se colocam agora num patamar diferente do que aqueles com que se bateu o Presidente José Eduardo dos Santos. Estou por isso, convencido, que o processo de transição angolano terá um impacto significativo no continente nos próximos tempos e isso explica, grandemente, a presença massiva de Chefes de Estado e de Governos ou seus representantes na cerimónia de hoje na Praça da República.
Assim apesar desta projecção no plano internacional, os grandes desafios do Presidente João Lourenço, nesta fase, encontram-se no plano interno. Consubstanciam-se nas suas principais bandeiras de campanha, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista económico e social. Lembro-me, por exemplo, do primado do combate à corrupção, ao nepotismo e à impunidade. João Lourenço falou várias vezes da necessidade de uma reforma do Estado, mediante medidas estruturantes de índole jurídico-organizacional, desburocratização, eficiência dos serviços públicos e reformas de carácter económico-financeiras com impacto na melhoria das condições de vida da população.
Neste último quesito é importante que a educação seja a pedra basilar do edifício nacional. Precisamos de devolver qualidade ao sistema de ensino público e torná-lo de facto acessível para todos os angolanos. Não podemos permitir-nos ver crianças fora da escola, ao mesmo tempo que precisamos de valorizar os professores e promover as ciências, a inovação e o conhecimento, premiando o mérito e a competência dos actores do sistema de ensino.
Ainda do ponto de vista social, o tema da promoção do género, da melhoria ou da redefinição do sistema nacional de saúde, do aumento dos acessos à água potável e saneamento básico como profilaxia das doenças mais frequentes em Angola, para além da assistência social, estamos em crer, estarão também na agenda dos próximos cinco anos.
Todavia, o êxito das medidas sociais está fortemente dependente da redefinição do nosso modelo económico. Precisamos de mudar o paradigma de organização económica e social e aqui talvez se coloque a necessidade de um verdadeiro compromisso e engajamento de todos os actores económicos, políticos e sociais no sentido de um diálogo nacional (na óptica da negociação política em vários níveis e da comunicação política assertiva) face à necessidade de reformas profundas que se avizinham.
Mutatis mutandi, cito aqui alguns breves extractos de Joseph Stiglitz, conceituado economista, na sua obra “A A Economia mais forte do Mundo” (2017), quando se refere à urgência de reformas na economia americana. Stiligtz escreveu:
“É essencial enfrentar todos estes desafios em simultâneo, pois a nossa economia é um sistema em que todos estes elementos interagem. (…) Não nos poderemos dar ao luxo de avançar apenas com alguns retoques mínimos e esperar que eles resolvam o problema. (…) não se trata aqui apenas do presente, mas também do futuro. As políticas forjadas hoje determinarão o País que seremos”. Por isso, apesar deste desiderato hercúleo, renovamos hoje a nossa esperança por dias ainda melhores, o que cremos estar ao alcance da nova liderança. Bom trabalho e boa sorte, Presidente João Lourenço.
(*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças
Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.
Esta transição política a que se assiste em Angola pode tornar-se uma referência para o continente africano. Em primeiro lugar porque o Presidente dos Santos, mesmo dispondo da legitimidade para permanecer no poder prefere dele abdicar, deixando que uma geração mais nova dê continuidade ao processo iniciado pelos pais do nacionalismo angolano do ponto de vista da soberania do Estado, da consolidação da democracia e dos caminhos para o crescimento económico. José Eduardo dos Santos cumpriu o seu papel histórico, de um patriota pacificador. Em segundo lugar, porque assistimos claramente a uma mudança geracional do poder, cujos desafios se colocam agora num patamar diferente do que aqueles com que se bateu o Presidente José Eduardo dos Santos. Estou por isso, convencido, que o processo de transição angolano terá um impacto significativo no continente nos próximos tempos e isso explica, grandemente, a presença massiva de Chefes de Estado e de Governos ou seus representantes na cerimónia de hoje na Praça da República.
Assim apesar desta projecção no plano internacional, os grandes desafios do Presidente João Lourenço, nesta fase, encontram-se no plano interno. Consubstanciam-se nas suas principais bandeiras de campanha, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista económico e social. Lembro-me, por exemplo, do primado do combate à corrupção, ao nepotismo e à impunidade. João Lourenço falou várias vezes da necessidade de uma reforma do Estado, mediante medidas estruturantes de índole jurídico-organizacional, desburocratização, eficiência dos serviços públicos e reformas de carácter económico-financeiras com impacto na melhoria das condições de vida da população.
Neste último quesito é importante que a educação seja a pedra basilar do edifício nacional. Precisamos de devolver qualidade ao sistema de ensino público e torná-lo de facto acessível para todos os angolanos. Não podemos permitir-nos ver crianças fora da escola, ao mesmo tempo que precisamos de valorizar os professores e promover as ciências, a inovação e o conhecimento, premiando o mérito e a competência dos actores do sistema de ensino.
Ainda do ponto de vista social, o tema da promoção do género, da melhoria ou da redefinição do sistema nacional de saúde, do aumento dos acessos à água potável e saneamento básico como profilaxia das doenças mais frequentes em Angola, para além da assistência social, estamos em crer, estarão também na agenda dos próximos cinco anos.
Todavia, o êxito das medidas sociais está fortemente dependente da redefinição do nosso modelo económico. Precisamos de mudar o paradigma de organização económica e social e aqui talvez se coloque a necessidade de um verdadeiro compromisso e engajamento de todos os actores económicos, políticos e sociais no sentido de um diálogo nacional (na óptica da negociação política em vários níveis e da comunicação política assertiva) face à necessidade de reformas profundas que se avizinham.
Mutatis mutandi, cito aqui alguns breves extractos de Joseph Stiglitz, conceituado economista, na sua obra “A A Economia mais forte do Mundo” (2017), quando se refere à urgência de reformas na economia americana. Stiligtz escreveu:
“É essencial enfrentar todos estes desafios em simultâneo, pois a nossa economia é um sistema em que todos estes elementos interagem. (…) Não nos poderemos dar ao luxo de avançar apenas com alguns retoques mínimos e esperar que eles resolvam o problema. (…) não se trata aqui apenas do presente, mas também do futuro. As políticas forjadas hoje determinarão o País que seremos”. Por isso, apesar deste desiderato hercúleo, renovamos hoje a nossa esperança por dias ainda melhores, o que cremos estar ao alcance da nova liderança. Bom trabalho e boa sorte, Presidente João Lourenço.
(*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças
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