A emergência do clima

Adebayo Vunge (*)

Resultado de imagem para Sommet des planets
Há poucos dias, Paris albergou um remake do CAP-21. Desta vez, sob a presidência de Emmanuel Macron, a capital da República Francesa acolheu a Cimeira ‘Um Só Planeta’, com envolvimento massivo de governantes de vários países do mundo, ambientalistas e, curiosamente, multimilionários como Bill Gates ou políticos como Al Gore, não obstante o Presidente Trump ter anunciado em Junho a saída dos EUA daquela convenção. No fundo, hoje existe um reconhecimento mundial do impacto danoso para o meio ambiente e das consequências do aquecimento global.
Existem eventos dramáticos em matéria do clima e os casos começam a ser recorrentes em África. Aliás, as consequências do aquecimento e a vulnerabilidade ambiental são demasiado evidentes no nosso continente. A evaporação do Lago Tchad é um destes episódios que deve chamar a nossa atenção. A desflorestação do Malawi é outro e os ciclos prolongados de seca no sul do continente são outros exemplos do alarme.
Ao contrário do que muitos ainda pensam aqui, nós não estamos imunes aos problemas climáticos e nos últimos dias tivemos alguns eventos que atestam isso. O primeiro tem a ver com os incêndios no Parque Nacional da Kissama. As poucas imagens que nos chegaram são chocantes e fizeram-me reavivar o brilhante trabalho do malogrado general João de Matos com a Fundação Kissama, no sentido do repovoamento animal do parque. Ver imagens de tartarugas mortas pelo fogo deixou meio mundo atónito com a nossa insensibilidade ao tema.
Imagem relacionada
Incendios florestais no Parque Nacional de Kissama

Outro flagrante das nossas maleitas em termos climáticos são os episódios de seca que começam a ser recorrentes em certas regiões do nosso extenso e variado território. Na mesma senda, podemos apontar outro problema grave que temos, que se prende com o nosso sistema de recolha e tratamento do lixo. Temos muitas lixeiras em zonas habitacionais, completamente descobertas e sem que isso faça mossa a quem de direito. Por isso, o lixo, as secas e as inundações – ou chuvas demasiado intensas – são o condimento perfeito para o aumento de casos de malária. 

O mais grave, do meu ponto de vista, é o saque económico e ambiental com a exploração de madeiras, um pouco por todo o país, com os episódios mais preocupantes em províncias como Uíge, Cabinda, Cuanza-Norte, Bengo, Moxico e Cuando Cubango. Ao circularmos pelas estradas do país, cruzamo-nos, volta e meia, com uma quantidade infindável de camiões, carregadíssimos de madeira fresca. Como se não bastassem os danos no médio e longo-prazos, muitos destes camiões ainda põe em perigo a vida de outros cidadãos que circulam nas estradas.
Fazendo fé na denúncia pública de alguns meios de comunicação social, esta pilhagem tem vindo a ser feita por cidadãos estrangeiros, maioritariamente chineses e vietnamitas, com a conivência de autoridades locais e tradicionais. Dizem os entendidos que a nossa madeira tem elevada qualidade e por isso milhares de toros de madeira têm sido exportados, sem ganhos directos para o Estado.
Resultado de imagem para Exploração de madeira em Angola

Precisamos de notar duas coisas: do ponto de vista ecológico, é possível adoptarmos uma exploração responsável, controlada e sustentável, salvaguardando-se o repovoamento florestal. Tenho muitas dúvidas, pelos relatos que chegaram, que isso esteja a suceder actualmente.

Em segundo lugar, a preocupação maior desta exploração desenfreada da madeira prende-se com o facto de ela ser feita sobre a matéria-prima, não agregando qualquer valor ao nosso parque industrial. Portanto, estamos a assistir passivamente a crimes ambientais cujos danos podem comprometer o futuro das próximas gerações de angolanos.
O aquecimento global e os problemas a ele associados são uma séria questão de segurança nacional para os países africanos que terão de fazer face ao crescimento demográfico que se prognostica para depois de 2050. Diante do cenário económico e político, a dimensão ecológica irá assumir contornos geoestratégicos. Algumas regiões do leste de África têm já experimentado conflitos por causa da água. Para se prover alimentos para dois mil milhões de habitantes é imperiosa uma nova abordagem, com foco na produção alimentar e na gestão dos recursos hídricos, que estão já a colocar os nossos ecossistemas sob grande pressão. 
A mudança para o clima é responsabilidade de cada um de nós. É uma emergência planetária, no dizer de Al Gore.

(*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças
Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.

Comentários