Adebayo Vunge |
Uma situação muito difícil. Para todos. Para quem vive nisso. Para os pais, irmãos, amigos, colegas, vizinhos.
Enfim, é um choque. É um mal que vai se alastrando na nossa sociedade e com o qual temos de ter coragem para lidar de frente. Está a entrar em nossas casas ou vamos tendo notícias de pessoas próximas que sofrem com o problema. Por isso, não podemos mais estar indiferentes ou sucumbir ao medo de olhar a questão.
São as drogas. Leves ou pesadas, não a droga da vida, mas as malditas drogas que destroem muitas vidas, lares e carreiras. Por isso o seu impacto ou abalo na vida dos seus consumidores e vítimas. A sociedade acabou por lidar com o tema, nos últimos dias, fruto do caso de um jovem músico da nossa praça, que esteve a circular nas redes sociais e o qual acabou por revelar, numa entrevista radiofónica, o que se passava. Tal como ele próprio o disse, e não para justificar, é bom que se diga, este problema não é uma novidade no meio artístico – quem não se lembra por exemplo do caso de Amy Winehouse?- mas isso, obviamente, não anula o choque e o mal que provocam na sociedade.
Em primeiro lugar, destaco o fenómeno do alcoolismo, enquanto também uma droga. Dito de outro modo, é nítido que aumenta o número de alcoólatras e isso é mais notório entre a juventude, o que se deve, em grande medida, a forma ligeira como é publicitado – incumprindo-se desse modo o que diz a Lei da Publicidade pois a sua difusão ocorre nas emissões, ao longo do dia, das rádios e televisões, para além da rede de distribuição comercial e o acesso descontrolado e sem restrições aos menores de idade. Entendo que o fenómeno das “janelas abertas”, que se espalharam pelo País, mais do que talhos, peixarias ou padarias, tem uma elevada dose de culpa no aumento dos casos de alcoolismo. Será normal que estas lojas não tenham dias e horários? São lojas ou são bares? São grossistas ou retalhistas?
Não estranha que uma das mais produtivas e rentáveis industrias nacionais é exactamente a das bebidas alcoólicas, com realce particular para as cervejeiras. Nos últimos tempos, surgiram marcas novas, angolanizaram-se algumas marcas estrangeiras e reatou-se a produção de outras, quando existem ainda segmentos importantes da industria transformadora que urge relançar, no que o governo chama de programa de substituição de importações. Portanto, com tanta facilidade e disponibilidade de acesso as bebidas alcoólicas, não poderíamos esperar outra coisa... é urgente a adopção de regras mais rígidas, sobretudo porque existe uma relação proporcional do alcoolismo com a assustadora sinistralidade rodoviária, segunda causa de mortalidade. Degrada psico e socialmente o individuo, destrói lares, interrompe carreiras promissoras e nos casos mais extremos leva a morte. O alcoolismo é por isso um sério problema de Estado.
Mas o alcoolismo é só a ponta do iceberg em relação ao aumento de casos de consumo de drogas na nossa sociedade. Existem outros casos igualmente perigosos que devem merecer a nossa preocupação como a liamba, cocaína, heroína, craque e outras formas de droga que começam a criar séria preocupação porque os seus traficantes e revendedores estão em pontos onde “atacam” as suas fragéis vitimas – praças públicas, esquinas e cruzamentos conhecidos e, o que é mais assustador, nos arredores de escolas e institutos médios. Muitos destes locais, pelo menos em Luanda, são do domínio público, outros têm sido denunciados, mas sente-se alguma passividade-negligência dos órgãos policiais. Pessoalmente sei do que falo, porque já abordei altas patentes da Polícia, denunciando o drama no bairro onde vivi.
Os meninos de rua, muitos deles crescidos ali, começaram por ser consumidores de gasolina e hoje são usados pela rede de traficantes como verdadeiros passadores. A coisa está a crescer e a gerar medo entre a vizinhança. Nunca senti que a minha denúncia tivesse sido atendida e manifesto publicamente o pânico que gera esta situação dada a capacidade de violência destes grupos.
No plano individual, se quisermos, é um problema crítico. Sabemos o quanto as vítimas sofrem para alimentar este vicio… No plano macro, o Estado não pode estar indiferente ou permissivo ao narcotráfico, ao sofrimento das vítimas, dado o seu impacto social-familiar e no sistema de saúde pública, enfim, temos de combater as hediondas drogas.
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