Adebayo
Vunge (*)
Fazemos parte de uma sociedade onde ainda não existe
uma cultura sólida de pagamento de impostos, aliás, apenas nos últimos anos o
tema entrou para o léxico popular e passou a dominar as conversas, com a
institucionalização da Reforma Tributária em 2011. Mais grave, existe
visivelmente uma forte resistência ao pagamento de impostos e amontoam-se
argumentos e barricadas contra os mesmos.
O que é mais curioso, no nosso seio, é o facto de, a
seguir, sermos nós mesmos que exigimos tudo ao Estado, esquecendo-nos de que a
principal fonte de receitas são (ou deveriam ser) os impostos e taxas.
Queremos um melhor sistema de educação, com mais
escolas e melhores professores? Queremos um sistema de saúde que garanta o
bem-estar colectivo seja na prevenção seja no combate às doenças. Queremos mais
investimentos públicos em infra-estruturas fundamentais para o desenvolvimento
económico como estradas, sistema de saneamento, pontes, caminhos-de-ferro e
outras? Queremos maior segurança pública, com uma polícia que esteja o serviço
do cidadão, com uma actuação exemplar e rigorosa, mas apoiada em meios
tecnológicos que suportem uma actuação a altura dos novos tempos, assegurando a
inviolabilidade das nossas fronteiras e da nossa propriedade privada?
Todos temos noção de que isso será apenas possível
mediante o aumento da arrecadação de impostos, mais do que isso, o alargamento
da base tributária, democratizando também aqui os impostos, evitando as perigosas
isenções ou a concessão de benefícios especiais ao que exercem o seu lobby junto do Estado e assim conseguem
lucros astronómicos gerando graves desigualdades.
Ouço com muita preocupação, sobretudo entre
empresários, um discurso anti-impostos ou se quisermos anti-AGT, enquanto
instituição pública que se ocupa da arrecadação tributária entre nós. Antes,
gostaria de reconhecer o enorme esforço do nosso empresariado para conseguir
sobreviver num ambiente de negócios como o nosso com gritante burocracia, ausência
de infra-estruturas básicas como sistemas de distribuição de água e energia,
para além de outras ineficiências como o sistema judicial.
é importante que o sistema fiscal garanta justiça oferecendo igualdade a todos os contribuintes. Este é um factor importante para que se promova a cidadania fiscal. Ao mesmo tempo, os resultados da governação, ou seja, da utilização racional e zelosa do erário público são a melhor fórmula de promoção da educação fiscal, na medida em que os governados consigam confirmar a benquista execução da sua contribuição em termos de políticas públicas.
O que entretanto não é um bom sinal para a classe
empresarial é quando esta tem dificuldades em entregar ao fisco, por exemplo, o
valor devido à título do imposto de consumo e ainda deixam, ora subliminarmente,
ora de modo expresso, a necessidade de beneficiarem de novo perdão fiscal. Como
diz um economista da nossa urbe, os empresários ao exigirem um novo perdão fiscal
“confirmam a falta de cultura fiscal reinante e dominante”. Ainda assim, valerá
a pena ponderar. As firmas que cobram imposto consumo aos seus clientes, em
nome do Estado, retém este valor e não o entregam ao Estado é aceitável vê-los
a exigirem publicamente perdão fiscal? Os probllematizantes chegam mesmo em tom
humorístico a afirmar “Andam a brincar de malucos e ainda vão falir o Estado de
uma forma irremediável”.
É verdade que devemos analisar a questão de modo
objectivo, mas é importante que o sistema fiscal garanta justiça oferecendo
igualdade a todos os contribuintes. Este é um factor importante para que se
promova a cidadania fiscal. Ao mesmo tempo, os resultados da governação, ou
seja, da utilização racional e zelosa do erário público são a melhor fórmula de
promoção da educação fiscal, na medida em que os governados consigam confirmar
a benquista execução da sua contribuição em termos de políticas públicas.
Será inútil entrarmos para o mérito de quem deve
assumir a iniciativa. Não valerá de nada engajarmo-nos na história do ovo e da
galinha. Será que o Estado deve fazer primeiro para cobrar a seguir ou os
cidadãos pagar antes e cobrar depois. O que é relevante no actual estágio de
desenvolvimento, é a urgência de aumentarmos a receita tributária. E não
bastará uma reformulação sistémica, como está previsto com a introdução do IVA.
É fundamental mudarmos as mentalidades e percebermos que a força do Estado
reside na sua capacidade de arrecadar – obviamente que não a qualquer preço ou
asfixiando a actividade económica pois assim também estaríamos a reduzir a
arrecadação.
Outra questão que me parece relevante é a carga fiscal
angolana que tem vindo a levantar algum debate e vozes no sentido de redução
das taxas, principalmente em sede dos impostos sobre o rendimento, mais
especificamente o Industrial. Quero acreditar que a alteração em vista para a
introdução do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas preserve a taxa
actual (?) havendo aqui a vantajosa simplificação com a eliminação, por exemplo,
do IAC. Ora, defendem vários economistas como Paul Krugman e Pikety que a
desregulação e a redução de impostos a que se assistiu em determinados Países
não foi proporcionalmente benéfica. As corporações aumentaram os seus
proveitos, não houve mais investimentos e a receita pública entrou em queda.
O importante é que tenhamos noção clara de que todos
devemos pagar. Ainda que pouco, mas todos. E digo bem, evitando-se as isenções,
para que possamos exigir do mesmo modo ao Estado e não fomentando por essa via
qualquer modalidade de descriminação (positiva ou negativa).
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